Travessa do Tranco ~ In Memoriam
Rest in Peace
quinta-feira, 16 de abril de 2015 19:02 | 0 Comentários

A neve caía naquele cemitério em Sussex, e o frio era tanto que pouquíssimas pessoas se aventuravam em visitar seus entes queridos já falecidos. Em um canto mais isolado tinha um jazigo de mármore negro adornado por anjos de pedra que ficava aos pés de um grande salgueiro chorão. O que mais chamava atenção era uma garota ruiva sentada ao lado de um dos anjos e ela estava tão quieta que podia facilmente ser confundida com um deles. 
Audrey tinha neve nos cabelos cor de fogo, ela não gostava muito daquele lugar cheirava como morte, mas ela tinha que ficar ali. Eventualmente ela conjurava luzes que guiavam os recém chegados para o outro plano, mas por algum motivo que a grifinória desconhecia, ela própria não conseguia ir embora. Um deles se aproximou dela, um rapaz com a cabeça arrebentada por um acidente de carro. Ele tinha os olhos cheios d’água e Audrey lhe deu um sorriso caloroso, juntou as mãos, conjurou uma flor de fogo e a lançou para o rapaz. Meio surpreso ele a pegou e quando entendeu a enormidade do presente da garota, ele retribuiu seu sorriso. 
Lentamente começou a desvanecer com um sorriso de agradecimento e Audrey sentiu uma pontinha de remorso. Ela sempre ficava muito sozinha naquele jazigo que mais parecia uma prisão. Ela então sentiu uma presença diferença, algo quente, algo vivo. Audrey semicerrou os olhos para as duas figuras que vinham ao longe, ela sempre fora meio míope. Por algum motivo ela não conseguia sair de perto daquela lápide, seu longo vestido era preso às mãos de um dos anjos e suas asas eram por demasiado pesadas. 
As duas figuras chegaram mais perto, uma criança ruiva de brilhantes olhos azuis e cabelos ruivos, carregava com dificuldade um bouquet de rosas que era praticamente do seu tamanho, e um homem de cabelos louros e olhos azuis que ela tanto amava. 
 -Diga olá para a mamãe - Johnny se ajoelhou ao lado da filha e ambos encararam a placa de bronze que adornava o jazigo. 
-Ela parece triste papai, porque?- Ao contrário de Johnny, Victoire tinha o olhar mais erguido e Audrey percebeu que a filha conseguia vê-la. Sua pequena Victorie que tinha herdado o seu dom, a criança também era beijada pelo fogo da vida. Ela tentou falar algo mas a voz morreu na garganta, Audrey não tinha voz para falar, não mais. 
-Bobagem Vic, ela deve estar feliz onde quer que ela esteja.- Johnny mentiu, ele se sentia miserável desde a morte da esposa e lhe parecia possível que ela também se sentisse do mesmo jeito. Entretanto aquilo apertava seu coração, era terrível apenas a ideia de que Audrey estivesse triste. 
-Não papai, ela está triste sim - Vic inflou as bochechas. Não gostava de quando não a levavam a serio e nisso era igualzinha à mãe. Johnny lhe deu um beijo na testa e falou sentindo os olhos ficarem cheios de água. 
-Hey minha fada, como você está?- Johnny perguntou olhando para o nada, o véu da morte a fazia invisível aos seus olhos. 
Audrey não podia se afastar dos seus restos mortais, mas podia se aproximar mais da sua família de modo que apenas uns trinta centímetros se interpusessem entre eles. A ruiva tentou falar mais uma vez, ficando na ponta dos pés ela conseguia olhar o marido nos olhos. “Você tem que me deixar ir Johnny”, se o corvinal continuasse a se recusar em pensar nela como uma morta, Audrey continuaria presa naquele jazigo. 
-Vic está ficando linda vê? Fico feliz que ela tenha herdado o lado bonito da família - Johnny falou com a voz embargada e Audrey lhe deu um sorriso. A filha tinha os olhos dele e muito da personalidade também embora os cabelos e as feições fossem maternas - Ela não mostrou nenhum sinal de mágica ainda, mas tudo bem, talvez seja melhor se ela for uma trouxa, talvez ela possa crescer de maneira mais segura assim. 
 Jhonny passeava os dedos pelos cachos de Victoire, e ela o olhava com cara meio brava. Audrey fez que não com a cabeça, a grifinória sabia que qualquer que fosse a dádiva que fora dada a ela tinha passado para a sua filha para permitir que a criança vivesse. 
-Papai para de olhar para o nada, mamãe vai se irritar com você! - Victoire teimou mas Johnny não lhe deu atenção. Acreditava que a filha estava imaginando a mãe, ele não a culpava, também sonhava com ela as vezes. 
 Audrey estendeu os braços e a ponta de seu dedo indicador encostou na mãozinha da filha. E naquele momento Vic estendeu a palma da mão, e de lá saiu uma pequena chama. Johnny arregalou os olhos, era a primeira vez que a filha fazia magia. Victoire delicadamente ergueu sua chama e ela voou em direção à ruiva mais velha. Foi só aí, quando Audrey recebeu o presente que estava tão acostumada a dar, que ela entendeu sua magnitude. Ela colocou o foco de luz entre as palmas tão mão e naquele momento todo o seu corpo começou a brilhar. 
Por um breve momento, Johnny pode vê-la, linda e resplandecente em sua energia mágica. “Você realmente estava aqui”. Ele não conseguia acreditar. As asas se ergueram, elas estavam leves para voar mais uma vez e Audrey sentiu-se tão feliz que soltou uma risada musical. 
 -Deixa ela ir papai, deixa ela ir - Victoire falou calmamente, era como se fosse uma adulta cuidando dele. 
-Eu amo você ok? - O homem respondeu, e aquilo foi dirigido para as duas ruivas presentes. Audrey então foi cercada por línguas de fogo enquanto ela própria se desfazia em luz. Estava livre, finalmente. 
-Eu também te amo - Sua voz pode ser ouvida mas sua figura não estava mais lá. Johnny enxugou as lágrimas com as costas da mão e pegou a filha no colo. 

-Você é muito especial sabia? - E fez-lhe cócegas nas bochechas. 
-O suficiente para jantar pizza com o tio Carl e a tia Anna? - Ela disse fazendo um biquinho. Normalmente Johnny era bem estrito quanto a dieta da filha mas aquele acontecimento deixou seu coração mais amolecido. 
-Mas você vai ter que comer uma fatia da pizza de abacaxi com presunto e sorvete que o Carlisle tanto gosta - Respondeu. 
-Irgh não! Eu quero pizza de frango - A ruivinha respondeu enquanto eles se encaminhavam para fora do cemitério. Johnny parou para olhar uma última vez, não teria sentido voltar ali, nada mais havia de Audrey naquele lugar. 
-Descanse em paz Audrey Creevel - Ele disse em um sussurro enquanto colocava a filha na cadeirinha do carro e dava a volta para assumir seu lugar no banco do motorista. 

 Por Audrey Le Fay White

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