Passar as férias em casa era a única opção da Família Creevel, se bem que para o garoto não era nada mal, afinal era verão e Londres estava em festa, se não fosse é claro o fato de que no ano anterior tanto ele quando a irmã saíram as pressas de Hogwarts logo depois das provas finais direto para casa e ficar enclausurado não era lá tão empolgante.

O clima no casarão não voltara ao normal desde o incidente das férias de Natal no ano passado, Johnny permanecia com a impressão de que seus pais escondiam algo, e tentavam esconde-lo de algo também, e por mais que ele tentasse descobrir, até mesmo com perguntas mal formuladas, não conseguia absolutamente nada.

Essa semana, como a maioria das férias Edward e Celine se ausentariam da companhia dos filhos, segundo eles reuniões com o departamento de cooperação internacional em magia, ou qualquer outra coisa complicada demais para facilitar perguntas da parte do garoto. O lado bom dessas ausências inesperadas era que Claus, o mordomo responsável pelo casarão na ausência dos seus senhores, era bem mais flexível com Johnny e facilitava alguns passeios pelos arredores de Westminster, claro que com minutos contados no relógio. E foi num desses passeios que tudo começou.


Verão, Julho de 1996.

Essa seria a primeira vez que os dois se encontrariam novamente desde o término do ano letivo. Ashley estava com a família na cidade para resolver assuntos de Gringotts, logo nada mais previsível do que uma visita ao amigo Creevel, isso graças à Fugin a coruja da família Talbot que aprendera a deixar correspondências direcionadas a Johnny na janela do sótão, para que o garoto pudesse recebê-las sem a censura dos pais.

Nesse dia não fez tanto calor quantos nos demais, pelo contrário parecia estar até mais frio do que o esperado. Johnny soprava o bafo quente na palma das mãos para aliviar o gelado da maçaneta ao abrir a porta do velho café num dos becos da antiga West End. Se acomodou no balão seguido da Garota que olhava a sua volta com grande curiosidade, um bar trouxa não é tão diferente de nenhum outro ambiente bruxo, mas a falta de costume de estar ali fazia com que tudo que passasse pelo seu campo de visão fosse curioso.
-Um café, por favor. -Disse o garoto jogando o corpo para cima do balcão- Completo, com Leite, pra viagem, Dois! -Disse por fim lembrando-se da ingenuidade da garota ao estar ali.
A garçonete era velha e possuía um semblante triste. Combinava com o ambiente de certa forma, já Ashley estava ainda mais bonita, seus cabelos tinham crescido espantosamente desde o a última vez que Johnny à vira, e seus olhos azuis cintilavam no ambiente mal iluminado. Ele á admirara enquanto ela prendia suas madeixas amarelas num coque mal feito, Ashley trazia para o garoto lembranças de Leonard consigo, lembranças que faziam com que Johnny sentisse um aperto no peito, se Leo estivesse vivo, pensava o garoto, talvez estivesse ali ao seu lado, talvez as férias teriam sido melhores, talvez a dor que Johnny sente dentro de si não teria tanta importância.

A Garçonete de semblante triste trouxe os cafés e recebeu dinheiro trouxa do garoto que com um gesto de agradecimento seguiu em direção à porta de saída.

-Aqui é sempre assim? – perguntou Ashley, olhando em volta.
-É sim.
-Deve ser legal morar aqui, digo perto de toda essa gente. Você precisa ir, não é mesmo?
-Te acompanho até o Caldeirão furado – Disse o garoto limpando o bigode de marshmallow do café.
-Você soube, o Cornélio Fudge renunciou e foi substituído por um tal Rufo Scrimgeour, ontem à tarde.
-Não! Respondeu Johnny – Fudge deve ter se envergonhado de continuar no Ministério depois de todas aquelas mentiras. Espero que a Umbridge seja excomungada de lá também.
Johnny não tinha muitas noticias do mundo bruxo desde que chegou à mansão no mês passado, logo estar com Ashley era como assistir o jornal matinal na televisão trouxa.

A frente do Caldeirão furado estava calma como sempre, mas barulhos avisavam: alguma coisa estava acontecendo. E estava, o lugar estava lotado, e o clima não estava nada agradável, bruxos mais altos reclamavam no balcão. Outros se acomodavam nas mesas com grandes malões às mãos. Os pais de Ashley estavam lá no fundo, conversavam com Ton, o corcunda dono do bar-estalagem.
-O que está acontecendo? Interrompeu Ashley acompanhando os pais.
-A passagem foi selada.
-Desculpem. – disse Ton – mas não posso colocar meu bar e meus aposentos em perigo. – Sinto Muito. Dizendo isso se afastou sendo rapidamente cercado pelos demais bruxos que reclamavam ali perto.
-Com licença senhor, mas o que está acontecendo? – Agora Johnny era quem fazia a pergunta, nem ele nem Ashley conseguiam entender o que se passava.
-O Beco Diagonal foi tomado pelos comensais! Disse num sussurro o Sr° Talbot, pai de Ashley.
-Comensais...mas o que..?
- Voldemort, está agindo. Metade das lojas estão fechadas, todos estão com medo. Completou a Bruxa, Mãe da garota- Ton selou a passagem temendo um ataque surpresa aqui no bar.
-Mas em Londres? Voldemort não atacaria num território trouxa- afirmou o garoto- Ele não estaria ganhando nada- completou.
-Não é questão de ganhar, menino!
A Voz do Sr° Talbot era firme e ele parecia narrar uma história distante. Johnny não tinha presenciado a ascensão do Lord-das-trevas no passado, e não tinha noção do que Voldemort era capaz de Fazer para tomar o poder.
- Acontece que Voldemort está agindo pelas laterais, e em pouco tempo ela tomará todo o centro. Completou o bruxo.
-O centro? Perguntou Ashley.
Voldemort no ministério, Seria possível? Era como as histórias dos livros antigos de História da Magia estivessem saindo em cima do mundo bruxo, seria esse então o motivo de toda essa proteção dos seus pais em cima dele e de Elouise, teria sido realmente comensais que invadiram sua casa no ano anterior? Mas por que?
Perguntas iam e vinham na cabeça do garoto que finalmente percebeu que nada estava mais como era antes.

Por Johnny Creevel.