Travessa do Tranco ~ In Memoriam
Transformação
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 09:59 | 0 Comentários

O ambiente era o mais escuro possível exceto por algumas poucas tochas de tonalidade vinho que iluminavam o local. À medida que avançavam o brilho das tochas ficava mais intenso até chegarem a uma grande sala ao estilo inglês antigo. Tinha três grandes janelas na parede oposta a da porta que iam do teto até um metro do chão onde havia bancos sob cada uma delas. As cortinas eram vinho com detalhes dourados assim como o restante de todo o estofado e tapetes da sala que se misturavam em tons e texturas. À esquerda da grande porta de madeira nobre havia uma linda lareira que queimava incessantemente. Sobre a lareira havia um quadro com uma bela moldura dourada, entretanto sem pintura alguma. No centro da sala havia dois sofás de 2 e 3 lugares, 2 poltronas e muitas, muitas almofadas. Entre os assentos estava uma mesa de chá com 6 xícaras postas. Ocupando 4 dos lugares estavam Virginy, Laiyl, Brigitte e Ange.

- É ela? – perguntou Virginy servindo-se de chá. Ela era a imagem da calma, de cabelos extremamente compridos, brancos e face serena. Seu vestido era preto com detalhes em um laranja vivo e rosas brancas enfeitavam seu chapéu. Virginy fora a primeira a tornar-se "bruxa" e, portanto, de algum modo, era a que tinha mais experiência. Pelo que Beatrice havia dito à Elise, Virginy era a única que conseguia por ordem nas outras, inclusive na própria Beato.
A esquerda de Virginy estava Ange, com o rosto sério e aparentando sempre estar com raiva de algo, o que combinava bem com seu cabelo cor de fogo, vermelho assim como seus olhos. Seu traje era composto de um casaco azul marinho e uma saia branca além de meia calça preta. De acordo com Beatrice não era bom mexer com ela. Por ter sido a última antes de Elise, talvez ela pudesse sentir raiva, inveja, ao talvez fosse daquele jeito mesmo.
Sentadas em um outro sofá estavam Laiyl e Brigitte. A primeira era loira de cabelos curtos. Seu vestido era comprido tinha várias tonalidades de rosa, deixando espaço na frente para que suas meias listradas rosa e branco aparecessem. Brigitte por sua vez tinha os cabelos compridos e num tom de roxo bem escuro. Seu vestido também era num tom de roxo azulado com detalhes brancos. Suas personalidades eram completamente opostas, sendo a de Laiyl extremamente explosiva e infantil e um tanto quanto obcecada por Brigitte que raramente falava algo.

- Sim, é ela. – disse Beatrice. Diferente do que Elise estava acostumada a ver, Beato usava agora um vestido comprido e volumoso, marrom com detalhes dourados por todo ele. Seu cabelo tão louro e brilhante quanto antes agora estava preso em um coque.
- Preparada? – disse ela à Elise que apenas acenou com a cabeça.

O silêncio instalou-se no ambiente. Toda e qualquer expectativa, pressão ou qualquer outra atmosfera haviam sumido. Todas levantaram-se e Elise foi conduzida ao centro do semi círculo que se formara, de frente para a lareira. As 5 bruxas fecharam os olhos e Virginy com um movimento de mão fez Elise sentir-se... Estranha. De seus lábios saíam palavras ininteligíveis e com outro movimento de suas delicadas mãos Elise caiu de joelhos e frente para o quadro. A voz começava a ficar um pouco mais alta e agora eram sussurros, ainda que não pudessem ser entendidos, Elise sabia que agora as 5 pronunciavam palavras, ainda que Virginy fosse a única a movimentar as mãos. Atrás de si Elise sentiu algo a empurrando e antes que pudesse cair deitada no chão, viu o quadro a sua frente mostrar uma pintura por pouco menos de 5 segundos, mas o bastante para que ela reconhecesse as 6 ocupantes daquela sala, incluindo ela própria.

Não sabia se tinham se passado 5 minutos ou 5 horas, mas Elise sabia que ficara algum tempo desacordada. Olhou a sala à sua volta. Os chás sobre a mesa ainda estavam nas xícaras o que significava que não devia ter ficado tanto tempo naquele chão.
Ao mesmo tempo que pensava nisso, sentiu fluir por seu corpo algo que ela não sabia o que era, mas a fazia sentir-se bem.
Pôs-se de pé e encarou o quadro à sua frente. Podia jurar que por um breve momento vira uma pintura ali e tinha quase certeza de que a roupa que estava nela nesse momento era a retratada na imagem.

- O momento da transição. – disse uma voz atrás de si facilmente reconhecida como a de Beatrice.
- Como? – perguntou Elise virando-se.
- O que você está pensando, o que viu. Esse quadro retrata o momento da transição de cada uma, por isso a roupa que você viu é a mesma que usa agora. Quando fui “transformada” usava o vestido vermelho que você viu e assim por diante.
- Hm... – assentiu Elise. Não estava tão interessada assim em pensar em coisas como aquela naquele momento.
- Acordas-te! – disse Virginy entrando na sala. – Ficou pouquíssimo tempo desacordada, mas o suficiente para notarem seu sumiço no hospital. Acho aconselhável você e Beatrice retornarem agora.
- E quanto...
- Aos poderes? – disse Virginy antecipando a pergunta – Não se preocupe. Nós o lacramos.
- O que quer dizer? – perguntou Elise olhando a sua volta. Brigitte parecia exatamente a mesma, mas podia enxergar medo o ódio nos olhos de Laiyl e Ange. Até Beato estava diferente. – O que eu fiz? – disse após uma longa pausa.
- O que você fez... Bom... É raro, mas creio que acontece, por isso não se cobre nem se assuste, mas você quase matou todas nós.
A frase assustou Elise um pouco. Certamente ela não se lembrava de absolutamente nada e pior do que assimilar aquela frase era ter de fazer isso com o sorriso no rosto de Virginy e a compreensão no rosto de Beato.
- Exatamente...
- Você ficou igual uma louca rindo histericamente e atirando para todos os lados... Se seus poderes não fossem tão recentes poderia ter de fato matado todas nós... – disse Ange. – Foi o retrato da loucura, honestamente. Nunca vi nada como aquilo... Em alguns momentos confesso que chegou a assustar-me.
- De fato você destruiu tudo por aqui, mas nada que Virginy não desse um jeito. – disse Beatrice em tom de brincadeira. – Escute criança... É muito fácil usar esses poderes para o mal. Não digo isso de um jeito... piegas. – disse fazendo careta na última palavra. – Acontece que é infinitamente mais difícil usar o que recebemos para o bem dos outros. Claro que somos egoístas ao extremo e só usamos em proveito próprio, mas veja... A linha entre desastre e qualquer outra coisa boa em que pense é muito tênue.
- Por isso trancaram meus poderes? – perguntou Elise retornando a forma antiga.
- Isso. – respondeu Beato.
- E eu só os terei novamente quando...
- Morrer.

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