Travessa do Tranco ~ In Memoriam
O FABULOSO DESTINO DE MARIE ELISE BILLARD
terça-feira, 21 de outubro de 2008 12:39 | 0 Comentários

Marie Elise Billard cresceu como uma criança isolada. Seus pais ao mesmo tempo em que eram superprotetores, com a mentalidade de um médico e uma professora do interior, eram extremamente castradores já que desde pequena Marie Elise era proibida de sair e brincar com outras crianças. E assim a pobre menina cresceu sozinha, especialmente depois da morte de sua mãe quando tinha nove anos. Ao ficar relativamente mais velha mudou-se para a capital e arranjou um emprego de garçonete no restaurante em frente ao prédio em que morava. E lá viveu muito tempo. Servia mesas, voltava para casa e saia somente quando necessário para comprar algo para casa ou para seu gato, seu fiel e único amigo, Shootzie.
Um belo dia, porém, um acontecimento mudou sua vida para sempre.

É com muita tristeza que anunciamos que hoje á noite o carro onde a filha do primeiro ministro estava sofreu um acidente. Até agora se sabe apenas que o acidente ocorreu na entrada do túnel que dá acesso ao centro. O motorista morreu na hora e o outro ocupante possui ferimentos graves. Não se sabe ainda o estado da filha do primeiro ministro e não há sinal de outras vítimas... Esperem, esperem, noticias acabaram de chegar da unidade móvel... Parece que infelizmente Ruth Betterade faleceu agora a pouco a caminho do hospital.

A tampa do perfume rolou. A tampa do perfume que estava da mão de Marie Elise que atormentada com a notícia largara a pequena bola rolou até bater no rodapé do banheiro próximo a pia. O azulejo soltou-se num barulho quase imperceptível que se não fosse o extremo silêncio da casa não seria ouvido.
Marie Elise voltou-se para o local para pegar a tampa e quando viu que o azulejo estava totalmente solto tirou-o. Para seu espanto encontrou um buraco relativamente fundo e sem pensar estendeu a mão colocando quase a metade de seu braço inteiro para dentro.
Qual foi sua surpresa quando seus dedos encontraram uma pequena caixinha de metal já enferrujada. Com alguma dificuldade retirou-a do buraco e limpou a poeira acumulada. Maravilhada pela pintura desgastada e antiga, demorou alguns segundos até que finalmente decidisse abrir a pequena caixa. Caminhou até a mesa da cozinha e como num ritual respirou fundo. Lentamente abriu o tesouro que havia encontrado e seus olhos brilharam quando dentro do que achava ser um grande tesouro, encontrou outro tesouro maior ainda. Figurinhas, a miniatura de um ciclista, um palito, um rolo de filmes, bolinhas de gude e várias pequenas coisas típicas de um tesouro de um menino.
Atrás de uma foto antiga encontrou uma data. Supôs que a criança era o dono do tesouro e baseada na data no verso calculou que rei de tudo aquilo devia ter cerca de 50 anos hoje em dia. E de repente ela decidiu algo. Decidiu que acharia o dono daquele tesouro e que devolveria a ele e que certamente ele ficaria imensamente feliz.

No dia seguinte acordou motivada. Não que tivesse conseguido dormir muito pensando nas diversas possibilidades e reações. Talvez desse um pouco de trabalho encontrar o antigo morador (ela supunha devido à caixa estar escondida no banheiro), mas valeria à pena.
Fez o de costume. Levantou-se pontualmente às 06h37min, arrumou-se e saiu de casa exatamente às 06h45min. Apesar do restaurante onde trabalha ser praticamente em frente ao seu prédio, Marie Elise passava antes na venda do Sr. Smith e usava seus quase 15 minutos observando as compras e principalmente o vendedor. Joseph Smith era o filho do dono. Não era tão inteligente, mas tinha um coração imenso. Sua irmã trabalhava com Elise no restaurante, garçonete. Mackenzie também possuía um coração imenso, mas não tão grande e bem mais realista do que o do seu irmão.
Porque exatamente Elise gastava em torno de 6 minutos parada em frente à venda, nem ela mesma sabia. Ela apenas gostava.
Seguiu para o trabalho chegando pontualmente às 07h00min para abrir o restaurante. As 07h45min o restaurante já estava limpo e exatamente quando a dona e as outras funcionárias chegavam. As 8h00min o restaurante D’avilla estava aberto.
O trabalho era, em sua forma mais simples, normal. Alguns clientes, horário do almoço relativamente mais agitado. Um homem, ex-namorado de Mackenzie, aparecia todo dia para vê-la com a esperança de reatarem. Elise acreditava que seu nome era Rudolph ou algo assim. Não importava muito na verdade.
Às 16h30min Elise pedia à dona que a liberasse mais cedo. Beatrice, muito gentil como sempre, mas com certa dose de autoritarismo consentiu a pequena estripulia e às 16h34min Elise estava saindo pela porta da frente rumo ao único lugar onde poderia encontrar a informação que desejava: o apartamento da síndica. Como moradora mais antiga do prédio Eva deveria conhecer bem os antigos moradores e foi como ela esperara. Eva, depois de pelo menos 3 horas falando sobre seu falecido marido que possuía uma amante e que morrera na guerra, revelou finalmente que o menino que ela procurava atendia pelo nome de Paul Jack.
Decidida a encontrá-lo Elise seguiu para seu apartamento e copiou da lista amarela todos os endereços e telefones de Pauls Jacks que encontrou.
No dia seguinte, muito animada por ser sábado, saiu em sua busca. Visitou os três primeiros endereços sem sucesso. Parou para almoçar e mais dois. Resolveu voltar para casa para ver se esquecera algo na lista. Subindo as escadas, no andar logo abaixo do seu, uma porta abriu. Howard Priest apareceu na porta e simplesmente entregou um endereço à Elise. Ela sabia quem Howard era... Era um senhor com problemas de saúde e agora, muito bondoso. Sem que tivesse tempo de perguntar algo, pois a porta fechara-se, Elise deu meia volta e pôs-se a descer as escadas novamente.
O endereço fornecido não era muito longe dali e Elise foi a pé, carregando, claro, a caixinha. Achou o homem. Ele era exatamente como a mente de Elise o imaginara. Elise então o seguiu até um bar no qual ele entrou. Como um plano bem planejado Elise entrou e ao seguir para o banheiro no fundo do estabelecimento deixou a pequena caixa ao lado do homem. Ele viu o gesto e de repente seus olhos se iluminaram. Reconhecera a pequena caixinha. Nostálgico abriu-a devagar e pode sentir lágrimas em seus olhos a reconhecer seu precioso tesouro. Elise então saiu do banheiro e caminhou para a porta.
- Obrigado. – disse o homem. Elise parou e virou-se.
- Sobre? – perguntou como se não soubesse.
- A caixa... – disse ele emocionado.
- Não sei do que se trata, desculpe-me. – respondeu Elise saindo por fim do bar. O homem sorriu e Elise também. Uma emoção tomava conta do peito dela que agora andava mais feliz, mais alegre, com vontade de ajudar mais pessoas do modo como fizera hoje e imediatamente veio-lhe a mente diversas possibilidades que seriam realizadas o mais breve possível.


O domingo foi de planos. Como não precisava de nada se sentou à mesa da cozinha e começou a bolar, a pensar em como fazer algo pelas pessoas contidas na lista feita minutos antes. Sem duvida daria trabalho. Começaria por seu pai, visivelmente solitário e apegado a um anão de jardim privando-se do sonho de conhecer o mundo. Não demorou muito para que a solução lhe viesse à mente. Muito simples... Anotou ao lado do nome de seu pai e passou para o próximo. Judith... Judith... Judith e Rudolph! Ela se lembrara de seu nome afinal. Sim, era isso. Mackenzie seria deixada em paz e sim, era isso mesmo... Agora... Eva... Essa era complicada, seu marido morrera... Era sozinha e sofria por não saber como ele se sentia em relação a ela. A idéia veio. Howard Priest... Extremamente complicado... Ele era um artista e solitário... Próximo, Joseph Smith... Puxa... Ele era dedicado e gostava de artes e... Mas era tão claro!
Os nomes de repente haviam acabado. Contas rápidas à parte, não demoraria mais do que uma ou talvez duas semanas para que tudo se resolvesse. Começaria pelo mais simples...
No dia seguinte fora ao trabalho como de costume, mas dessa vez resolvera atender à mesa do freqüente Rudolph.
- Já decidiu o que quer?
- Um café... – disse ele enquanto seguia Mackenzie com o olhar.
- Sabe, acho que você teria uma visão muito melhor se olhasse para o outro lado. Surpreso ele virou a cabeça e deparou-se somente com a sorridente Judy terminando de atender um cliente.
- Não entendi o que disse.
- Acho que entendeu muito bem sim. – respondeu Elise saindo e indo pegar o café. Quando voltou nem foi olhada, Rudolph estava com os olhos fixos... Na tabacaria.

Assim que saiu às 18h seguiu direto para a casa da síndica Eva. Foi muito bem recebida e quando foi deixada sozinha já que a anfitriã fora preparar-lhe um chá, dirigiu-se à caixa onde as cartas do falecido eram guardadas e rapidamente colocou-as sob o casaco. Tomou o chá rapidamente e saiu. Passou a noite toda em seu apartamento pondo seu plano em ação. Foi dormir quando já eram 22h, mas valera à pena. Só o que tinha de fazer era retirar uma fotocópia e envelhecer o papel...
No dia seguinte usara seu horário de almoço para isso. Para isso e para passar da venda dos Smith para saber o quão Joseph gostaria de aprender arte... Muito, ele respondera.
Seguiu para seu apartamento e deixou o papel com toque envelhecido, secando. Ao descer parou na porta do senhor Priest e por baixo da porta deixou um bilhete com o seguinte escrito: Estaria disposto a ensinar arte a um jovem talento?

Ao voltar ao trabalho percebera que a semente fora plantada e que agora germinava e muito bem. Voltando finalmente para casa, pegou o papel já completamente envelhecido e tratou de colocá-lo no correio. Correu para casa com frio e encontrou o bilhete que passara mais cedo ao senhor Priest agora do lado de fora, com uma resposta. Pegou um lápis em seu bolso e escreveu o nome de Joseph Smith à pergunta Quem?


O ultimo plano era o mais complicado e sem duvida necessitava de uma visita à casa de seu pai e um pequeno seqüestro. Foi no final de semana subseqüente. Os outros três planos haviam dado certo. Joseph tinha aulas de artes com o não mais solitário Howard, Eva recebera uma carta perdida de seu finado dizendo-lhe que ela era a única mulher que ele amara e por fim, Judith e Rudolph pareciam namorar em paz. E agora o ultimo. Foi tudo muito bem planejado e quando estava para ir embora da casa de seu pai sempre tão atencioso já agora depois de velho, roubada o anão de jardim.
Foi meio difícil colocá-lo em frente às fotografias de vários lugares do mundo aumentadas muitas vezes na tela de seu velho computador. Tirara as fotos e amanha as revelaria. Foi o que aconteceu, mas com um pequeno imprevisto.
O que ocorreu foi o seguinte, apressada como sempre, Elise sem perceber esbarrou em um homem que vinha na direção contrária e que sem perceber deixara cair um livro. É claro que Elise o abrira e verificara seu conteúdo. Tinha fotos. Fotos rasgadas e remontadas. Fotos de pessoas desconhecidas. Fotos. Elise guardou-o em sua bolsa com muito cuidado e seguiu para revelar as fotos. Alguns dias se passaram e Elise ia mandando aos poucos as fotos do anão de jardim que viajava pelo mundo.
Foi quando se lembrou do álbum do estranho apressado.
Abriu-o mais uma vez com cuidado, dessa vez procurando algo que pudesse identificar o dono. Tudo o que achou foi o endereço de uma loja. Era um começo.

No final de semana seguinte Elise fora até a loja do álbum.

Poder-se-ia alongar a história como se cada detalhe fosse de suma importância. Bom, cada detalhe não é. Basta saber que ele não estava na loja. Quem quer que ele fosse. Elise entrou no que considerou ser uma videolocadora e perguntou a atendente muito bem dotada Noreen onde estava o dono daquele álbum. O estranho é que ela não perguntou quem era o dono e sim onde ele estava. “Owen está fora agora, mas amanhã nesse horário ele estará aqui. Você achou o álbum dele? Quer que eu entregue?” disse-lhe a mulher num fôlego só. Qualquer ser humano normal pediria para ela repetir, mas Elise apenas disse que não e saiu. Amanhã, mesmo horário, Owen. Informações que ela conseguira entender e as únicas importantes. Owen... Elise perguntava-se qual seria seu sobrenome?

No dia seguinte, no mesmo horário Elise foi até a loja, mas não entrou. Ficou do lado de fora observando as três únicas pessoas lá dentro. A atendente Noreen, um cliente indeciso entre Pânico e Todo Mundo em Pânico, achando se tratar de plágio e um rapaz que lhe explicava a diferença entre os dois filmes. Esse rapaz Elise supôs ser Owen. Mais tarde ela veria que estava certa.

Passou a observá-lo de longe e logo descobriu seus horários. Passou-se um mês nessa brincadeira até que Elise tomou coragem para falar com ele. Mas não podia ser de um jeito normal... Tinha de ser diferente, criativo, importante. Uma idéia lhe veio à mente e correu para a papelaria. Comprou 3 caixas de giz e voltou para casa. Pensou em seu plano a noite toda até o dia seguinte. Seria sábado. E sábado chegou.

Precisava fazer duas coisas simples. Ir ao parque, marcar lugares com setas azuis e depois ir até a loja e de algum modo fazer com que ele fosse até o parque. Não demorou muito para que ela estivesse escondida atrás de uma árvore no alto do parque observando tudo. Pode ver ele achando seu álbum e a primeira seta. O que Elise não pensara era se ele tinha alguma intenção de encontrar com ela, visto que ele nem ao menos sabia que ela existia, não ela, ela, mas ela pessoa.
Por dois segundos sua respiração falhou. Prendeu o ar e soltou-o aos poucos, apenas esperando a reação dele. Para sua sorte e alívio (e continuidade da vida) ele começou a seguir as setas e Elise pode voltar a respirar. Passaram-se alguns minutos até que ela o viu se aproximando. Como se precisasse fugir de alguma coisa Elise pôs-se a correr para longe dali. Para onde as setas tinham início. Chegou quase sem fôlego e olhou para cima esperando que ele aparecesse no mirante. Mas ela não o viu. Talvez ele tivesse desistido. Provavelmente ele havia desistido. Nem tudo podia dar certo...
Nem tudo. Mas uma vez na vida, dizia um ditado, a sorte nos sorri. E tudo dá certo. E tudo deu certo.

De repente Elise sentiu algo em sua cintura. Virou-se e viu a figura daquele que ela seguia. Ele tinha agora suas mãos na cintura de Elise e puxava-a para perto de si. Ela sentiu seu rosto corar e seus olhos marejarem. Ela estava chorando. Por entre as lagrimas Elise sentiu seus lábios se tocando num beijo que há muito sonhara.
Porque ele tomava tal atitude se nunca a havia visto? Por quê? Como ele chegara ali tão rápido?
Não, Owen não estava seguindo Elise do mesmo modo que ela fazia, mas sabia que ela existia e, simplesmente, era mais rápido do que ela.


...


Bom, como eu entrei para o Travessa... Uma pergunta curiosa, por foi exatamente num momento da minha vida em que eu já tinha posto na minha cabecinha teimosa de que não escreveria mais para nenhum blog de fics visto que eu já havia participado mais de 20 e alguns ao mesmo tempo (5 ou 6 na média). E então me vem o J.C e me pede para divulgar o blog dele, Lumus, na comunidade de fics do orkut que eu tenho (tinha eu acho) onde eu havia listado links para um monte de blogs. Bom, até aí tudo normal. Fiz a propaganda e um belo dia feliz ele me pede para mudar o endereço porque virou o Travessa. A essa altuma eu, por algum motivo desconhecido, já tinha mais ou menos uma idéia para uma nova personagem. Como quase todas minhas personagens, seria uma corvinal com tendencias sonserinas e pensando um pouco veio a Elise! De alguma forma misteriosa resolvi mandar a ficha e pronto! Entrei para esse blog maravilho e "reencontrei" muitas pessoinhas de outros blog (apesar delas não se lembrarem de mim).

Agradeço extremamente ao J.C pela oportunidade (XD) e ao povo do Travessa. Foi realmente quase um "remédio" para várias coisas que vinham acontecendo.
E é isso! Obrigada por me aturarem e aturarem a Elise, mesmo com suas tendencias assassinas! E obrigada gigantesco pelo J.C não ter me expulsado do blog depois que mandei para ele as primeiras fics com uma bruxa do mal e espero que ele não me mate depois que eu mandar a continuação com uma gangue de bruxas milenares! *ops!*

Ana Beatriz R.P. de Araujo ou Marie Elise Priest Billard.






EXTRA:
 
Pessoal a Marie preparou um bonûs otimo para nós dessa vez. Ela separou uma trilha sonora com musicas Francesas otimas que podem ser encontradas clicando em Trilha sonora.


Travessa do Tranco

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