Travessa do Tranco ~ In Memoriam



“Sorria para mim mais uma vez, Beatrice...”.



Da série “O Conto da Bruxa de Ouro”
Parte 1 – acordando a bruxa dourada.

Descendo o rio há uma vila
E como os dois da vila dizem,
Procure pela praia.
Lá, a chave para a vila dourada dorme.
Aqueles que acharem a chave
Devem seguir o que está escrito abaixo
Para encontrar a vila de ouro.

Na primeira noite ofereça pela chave um sacrifício.
Na segunda noite, suspeite.
Na terceira noite, tema.
Na quarta noite, grite.
Na quinta noite, fuja.
Na sexta noite, enfrente.
Na sétima noite, lute.Na oitava noite, mate.
Na nona noite a bruxa dourada irá reviver.
Na décima noite a jornada terá acabado,
É só o que posso dizer.

Capítulo 1 – Desvende.

Marie Elise lia e relia o conteúdo da carta desse ano. Era diferente de tudo o que seu avô já havia feito... Nos anos anteriores ela havia conseguido resolver com facilidade os enigmas propostos, mas esse desafiava até mesmo sua inteligência.

“Diabos! O que será que o velho está pensando?!” imaginava enquanto dobrava a carta e guardava-a junto de seus objetos pessoais. Na caixa dos respectivos havia uma foto de quando ela era criança e também uma de toda a família. Alguns papéis, cordões, cartas e uma folha seca. Lembrava-se muito bem daquela folha... Joey havia lhe dado pois tinha a forma parecida com a de um coração.

Sua mente vagava para memórias antigas quando sua atenção pousou na pequena caixinha preta sob o criado mudo.

“Owen! Posso imaginar o que tem aí dentro...” E com relutância alcançou a caixa e abriu-a, certificando-se de que não havia ninguém mais presente no quarto. Estava certa. Era justamente o que ela esperava.



Capítulo 2 – Relembre.

Tinha de dormir. Precisava dormir. Não simplesmente pelo fato de que teria de acordar cedo, mas principalmente porque precisava lembrar-se. Fechou os olhos. Porque as imagens não apareciam? Porque a lembrança, justo aquela lembrança, lhe era tão fraca?

Pedia para sonhar com aquilo, pedia para lembra-se. A bruxa de ouro negaria-lhe este pedido?

Estava escuro. Um breu. Estava em um barco. Como sabia? O motor. O barulho do motor denunciava. E também o cheiro do mar que tanto lhe era familiar. Aquilo lhe parecia tão normal e ao mesmo tempo tão estranho... Faltava algo. O que faltava?

As gaivotas. As gaivotas não choravam como nos anos anteriores. Elas sempre choravam. Estranho aquela lembrança ter sumido.
”Sinal de má sorte” repetia enquanto passavam pelo lugar onde deveria estar um pequeno santuário. Má sorte. Má sorte. Não está ali. Não está. Não ali.

Porque não estava ali? Porque as gaivotas não choravam? Porque elementos outrora tão importantes não encontravam-se onde deveriam estar.
Mas o quadro estava onde devia. O quadro e a medonha escritura.

Já haviam chegado. Já haviam passado pelo jardim de rosas. Orgulhoso jardim de rosas cultivado com tanto cuidado. Havia uma rosa morta, entretanto. Porque? Porque haviam deixado aquela rosa ali? Porque tudo parecia diferente?

Agora estava um pouco mais claro, mas ainda não havia luz. Sim, eram os trovões. Os raios ao longe e tão próximos. Mas não havia chuva. Não chovia...
Chuva... Sim, estava lá... Não. Eram suas lágrimas. Não sabia que eram tantas.

Um brilho. Uma borboleta. Uma borboleta de ou ro.

Beatrice, a bruxa dourada.

Elise abriu os olhos devagar. Lembrava-se agora. Tudo lhe parecia tão simples. Levantou-se e procurou pela carta recebida mais cedo. Releu-a. Agora tudo fazia o mais completo sentido... Podia enganar quem quisesse, mas não enganaria ela. Não ela. Não a própria bruxa dourada.



Capítulo 3 – Venha.

Não podia ignorar que aquele maldito dia chegara. Mas é claro que chegara... Tinha de chegar... Fazia 6 anos desde o último grande enigma. O último grande desfecho. Mas não podiam impedi-la de voltar agora. Não agora que ela havia finalmente escolhido... Finalmente... Escolhido...

- Oh sim, entendo. E devido à essa ausência o senhor pede que a senhorita Billard e o senhor Smith façam as provas antes. – a voz do diretor de Hogwarts era mansa e por demais “bondosa”. Elise não gostava disso.

- Exatamente. Veja, essa viagem é um ritual familiar que acontece todos os anos. Normalmente esperamos até que haja recesso no colégio e que todos os membros estejam disponíveis, mas esse ano as coisas aconteceram muito depressa. Eu não pediria se não fosse de extrema importância. – a voz de seu pai também não era diferente. Ele parecia explicar-se demais para o gosto de Elise. Ela não se incomodava de fazer as provas depois, ou de não fazê-las. Seu destino estava traçado e ela podia começar a vê-lo. Estava traçado por uma tênue linha dourada.

- Já está com tudo pronto Elise? – perguntou Joey enquanto via a menina chegar carregando uma mala.

- O que lhe parece? – respondeu irônica entregando-lhe a mala de qualquer jeito e entrando no carro. Mackenzie já estava lá dentro, e Joey agora entrava. Seu pai falava as últimas palavras com Dumbledore e preparava-se para juntar-se ao três. O motorista esperava já com o motor ligado.

Pela janela meio embaçada podia ver alunos curiosos com o que estava acontecendo. Apoiou a cabeça sobre a mão após apoiar o cotovelo em uma pequena bagagem de mão à seu lado.
Os rostos do lado de fora limitavam-se a observar e comentar uns com os outros o que estava acontecendo. Esepeculações. Agora a professora McGonagal dispersava um grupo mais eufórico. O carro ia começar a andar. Seu pai despedia-se por fim de Dumbledore e o motorista dava a partida.

Elise correu os olhos mais uma vez pelo rostos do lado de fora esperando ver o de alguém conhecido. E viu... Mais do que espearava...

Já não estava mais em Hogwarts, viajava para a “Ilha Priest” de significado vago e inútil. Rostos... Era incrível como em pouco tempo conhecera tanta gente...

Fechou os olhos. Devia ser efeito da bruxa dourada...



Capítulo 4 – Ninguém presta.

- Esses jantares em famílias são sempre iguais, não acham? – perguntava Mackenzie à seu irmão Joey. Apesar de serem tão parte da família quanto o restante, eles agora comiam em uma mesa separada. Não pelo fato de serem “agregados”, mas porque, de alguma forma ainda eram considerados crianças. Eles, Elise, Olivia e Owen, apesar deste raramente manifestar-se. Até algum tempo atrás a prima mais velha deles, Samantha, também sentava-se à mesa das “crianças”, entretanto havia conseguido o direito de sentar na mesa principal há 3 reuniões.
- Sim, eles são todos iguais. Mas porque a gente não está lá, porque se estivessemos...
- Não faria a mínima diferença. – completou Elise.
- Do que está falando?! Se estivesse sentada lá não lutaria para que te ouvissem?! – disse ele em resposta. Mesmo em outra mesa ainda podiam ouvir o que conversavam, apenas, o que eles falavam não contava em nada.
- E agora a Sam foi para lá e nem para levantar e servir de nossa porta voz... – resmungou Mackenzie.

- O que você quer dizer com devemos deixar issso de lado?! – pergunto Samuel Jr à seu cunhado e pai de Marie Elise, Otto Billard.
- Porque... – começou ele.
- Otto, querido – disse Annelise, a mãe de Marie, - Não precisa justificar-se perante meu irmão... – sua voz era uma das mais calmas daquela mesa e ainda sim, tão firme quanto qualquer outra.
- Ele precisa justificar-se sim! – retrucou Samuel.
- Hm! Sabemos bem o que é isso, não Otto? Primeiro ele nos convence a deixar isso de lado esse ano e depois vai em busca sozinho! Não me surpreenderia se sacrificasse a própria filha por causa disso! – disse Eliza, tamém irmã de Annelise.
- Pela primeira vez concordamos em alguma coisa... – disse Noreen, esposa de Howard, irmão de Otto, do outro lado da mesa.
- Como se se preocupassem com ela. – respondeu Otto. – Isso é reclamação de uma que nunca teve filhos e outra que se arrepende...
- Termine essa frase seu maldito! – gritou Howard ao lado de sua esposa.
- Quer brigar agora?! – disse Otto levantando-se.
- Pode apostar que sim! – respondeu Howard fazendo o mesmo.
- Otto, sente-se. – disse Annelise. O marido obedeceu e Howard sentou-se tamém logo em seguida.
- Onde estávamos? – perguntou Roger, pai de Joey e Mackenzie.
- Estávamos na parte em que discutíamos frenéticamente sobre a herança. – disse Emily Billard, avó paterna de Elise.
- Emily. – disse Paul Jack.
- Sim eu sei querido. – respondeu ela.
- Humpf! – disse Samuel Jr. – Eu proponho cada um se virar! Cada família por si e aqueles como eu e Eliza que não temos família...
- Que são só vocês dois... – afinetou Noreen.
- Muito engraçado... – riu Eliza debochadamente.
- Nós já entendemos. – disse Margareth, avó materna de Elise tentando apartar a briga imintente.
- Se me permitem. – começou Samantha. Era a primeira vez que se manifestava desde sua primeira reunião na mesa principal. Todos pararam para prestar atenção. Todos tinham algum respeito pela recente mulher, em boa parte por causa de sua falecida mãe. – Nenhum de nós aqui conseguiu resolver o enigma desde ano, correto?
Um murmúrio de “sim” foi ouvido.
- Exceto uma pessoa. – continuou ela. De repente o murmúrio teve fim por três segundos para depois comçar novamente. “Sim” já não eram mais ouvidos, todos perguntavam-se quem havia conseguido resolver aquilo. Quem quer que fosse estava passos e passos à frente dos demais.


- Não adiantaria nada se estivessemos lá ou não, Mackenzie. – disse Elise em resposta ao comentário da menina.
- Porque diz isso Elise?! Claro que adiantaria! Poderiamos mudar a cabeça deles... – começou ela.
- Pretende fazer uma revolução? – brincou Joey.
- Você também faria o mesmo! – respndeu sua irmã mais nova.
- Não adiantaria... – disse Elise. – Porque nenhum deles presta. Ninguém presta.

E dito isso levantou-se da mesa retirando-se da sala. Owen riu.

- Quem foi que resolveu o enigma? – perguntou Samuel, avô materno de Elise. Por ter sido ele quem “fez” o enigma, não conseguia esconder sua surpresa. A bem da verdade ele havia apenas recebido a carta pronta, só tendo que distribuir o desafio ao restante da família, mas como bom membro dos Priest (e também dos Billard) deu uma olhada antes. Todos sabiam que ele fazia aquilo, entretanto em nenhum ano obteve sucesso no final.
- Huhum. – começou Samantha. – Isso é óbvio. A única pessoa que poderia resolvê-lo e a mesma que resolveu tantos outros.
- Refere-se à... – disse Samuel Jr.
- Marie.

Todos então viraram-se para a mesa onde estariam as crianças e entretanto Elise não estava lá.



Capítulo 5 – Entrelinhas.

A caça pela filha mais velha de Otto e Annelise já tinha a duração de algumas boas horas da noite e, no momento atual, da manhã. Ninguém sabia como, mas Elise simplesmente dera um jeito de sumir de vista de qualquer um.
- O que está fazendo aqui? – perguntou Owen sentando-se ao lado da prima num rochedo que dava para o mar.
- Olhando Hogwarts. – respondeu ela.
- Aquele colégio fica nessa direção? – perguntou Owen olhando para o horizonte nublado.
- Huhm. – respondeu Elise num murmúrio.
- Quer voltar para lá? Sente saudade? – perguntou debochado.
- Nem um pouco. Só que... Se estivesse lá... – Elise parou de repente, hesitante.
- Termine a frase. – disse Owen em um tom encorajador.
- Se estivesse lá, provavelmente o que está para acontecer... Não, certamente o que está para acontecer não aconteceria.
- Refere-se ao enigma?
- Huhm.
Os dois passaram alguns minutos em silêncio apenas observado o mar que se extendia ao longe. Como em todos os anos havia gaivotas no céu rondando para lá e para cá. De onde estavam podiam ver um pedaço da praia e ouvir vozes que pareciam vir de lá.
- Parece que resolveram ir à praia como diz o enigma. Apesar de achar que não vai adiantar nada, não? – perguntou Owen já sabendo da resposta.
- Não, não vai adiantar nada. Não faz referência à praia em si...
- Não precisa me contar se não quiser. – disse ele.
- Tanto faz, eu já estou com a chave mesmo... – disse ela dando de ombros.
- A chave do enigma? Já está com ela? – perguntou ele meio não acreditando.
- Sim, já estou com ela. E há um bom tempo também. – respondeu a menina com um sorriso irônico. – De qualquer modo, praia no enigma faz referência ao primeiro lugar pensado no verão. Verão por sua vez implica em pensar em sentimentos puros, de alívio. Siga por aí e vai ver que já tenho a chave...
- É só isso?
- Sim, é só isso. O rio quer dizer união, os dois da vila... Bom, eu já sei o que é a chave e você me deu ela. Agora não deve ser muito dificil descobrir.
- Espera, eu lhe dei a chave?! – perguntou ele atônito.
- Sim Owen querido, você me deu a chave quando foi à Hogwarts entregar-me a carta com o enigma.
- Como eu tenho certeza de que a carta não é a chave, então... – começou ele pensando. – O anel. – disse por fim com um sorriso.
- O que significa que os dois da vila são os dois no altar. – disse Elise levantando-se e se afastando dali. – Á propósito... – disse ela parando e virando-se para Owen ainda sentado olhando o mar. – Eu aceito. – terminou virando de costas para ele. Ambos sorriram.



Capítulo 6 – Sacrifício.

- Pode ir dizendo Elise, o que significa isso?! – perguntou Howard parado na entrada da cozinha apontando para o corpo de um serviçal, sem vida.

Toda a família estava presente em diversos graus de envolvimento. Enquanto alguns exigiam saber a resposta, outros preferiam nem saber que havia um corpo ali e que provavelmente Elise era a responsável.
- Como eu vou saber? – disse a menina dando de ombros.
- Não se faça de desentendida mocinha! Você foi a única de desvendou o enigma e agora esse corpo aparece aqui, do nada! Não quer que acreditemos que foi o Babbitti, a coelha?! – dizia Howard uma oitava acima.
- Não espero que acreditem em nada, não adiantaria nada mesmo.
- Elise, minha filha, por favor. – pediu Annelise.

A menina olhou para cima e suspirou. Teria... Teriam de deixa-la em paz.
- Se querem saber, eu já tenho a chave e como bem diz o enigma, no primeiro dia, ofereça pela chave um sacrifício.

Parado próximo ao corredor Owen riu. Ele sabia muito bem, tanto quanto Elise, de que aquele sacrifio não fora feito por ela e muito menos pela chave. Ele só não sabia quem havia feito, ao passo de que Elise...
- Então... – disse Samuel.
- Então é bom se prepararem. – disse a menina. – Ora, não façam essas caras estúpidas! E não digam que estão com medo?! Vou contar um segredo – disse Elise. Sua face tomando uma forma ligeiramente assutadora. – Esse enigma... Foi feito para mim. Tudo o que vai acontecer a partir de agora já estava destinado à acontecer. Tudo... Preparado... Por...

Como se acompanhassem a menina, raios iluminaram a sala revelando ao claro a grande pintura de uma mulher loira, linda, com uma expressão serena e ainda assim assustadora.

Ainda assim todos esperavam apreensivos Elise dizer o nome. Não faziam idéia de qual nome seria, quem seria, apenas queriam saber. A menina entretanto não disse nada. No momento em que todos achavam que ela ia falar, borboletas douradas invadiram a sala cegando parcialmente à todos. O brilho era intenso e ao mesmo tempo escuro. Antes que se dessem conta, era dia novamente.



Capítulo 7 – Suspeite, tema, grite, fuja, enfrente, lute, mate.

No período que estavam ali os dias passavam incrivelmente depressa. 4 noites haviam se passado e os dias eram tão curtos que todos, ou quase todos, estavam amedrontados. Rezavam para que não chegasse à noite, temiam pelo que podia acontecer.

O clima de suspeita na grande mansão era imenso. Todos evitavam uns aos outros e principalmente Elise. Até mesmo Joey e Mackenzie caíram no terror que Elise pusera neles. Talvez uma pessoa apenas estivesse tão normal quanto antes e isso talvez se devesse ao fato de que sabia que estava a salvo. Owen era o único que se aproximava de Elise e a bem da verdade passavam boa parte do tempo juntos.
- E agora? – perguntou Owen à menina. Fazia uns bons 15 minutos que estavam sentados ali, em silêncio.
- E agora o que? – disse ela deitando-se na grama. Estavam afastados da casa próximos à entrada de um bosque.
- Tem que todos estão esperando as ações das noites. Passaram-se 4 noites e nada.
- Eles deviam agradecer por isso, mas... Não é verdade que nada aconteceu. Em seus intímos estão todos, exatamante como dito no enigma, suspeitando, temendo, gritando e fugindo uns dos outros. Mesmo que interiormente.
- Faltam 3 noites... Alguma ação? – perguntou Owen.
- Sim. Hoje já tem uma ação querido, não se preocupe. Você é o sádico e eu sou tomada como a vilã...
- Hm... Você também é bem sádica querida. – disse ele deitando-se a seu lado. Ficaram ali um bom tempo até anoitecer.
- O que você está fazendo Elise?! – gritou Mackenzie para a prima. Como era de se esperar, estavam todos no hall, cenário de todos os acontecimentos importantes já ocorridos e provavelmente dos que iriam ocorrer. Alguns membros da família já haviam tentado, em vão, permanecer longe e fora dali. Trancavam-se em seus quartos, evitavam passar por tal lugar, entretanto quando menos esperavam eram cercados por borboletas douradas e quando viam, estavam no hall.
- Sexta noite. – disse Elise. Ela se encontrava no alto da escada, em frete à grande pintura que todos temiam. – Enfrentem.
Dito isso uma enxurrada de borboletas saiu do quadro indo em direção ao grupo no pé da escada. Conforme se aproximavam as borboletas foram tomando formas humanas, de 7 meninas portando uma espécie de espada que começaram a atacar a todos. As mesmas borboletas douradas deram forma à armas de fogo entregues à cada um deles.

Não sabiam quem eram essas 7 meninas. Não sabiam o que estava acontecendo. Só tinham certeza de que deveriam lutar. Sobreviver.
- Não está sendo cruel? – perguntou Owen pondo-se ao lado de Elise no topo da escada.
- Cruel? – perguntou ela surpresa. – Agora eu sou cruel...
- Não olhe para mim... – disse ele. – Quem são elas? – perguntou por fim.
- Elas? Stakes.
- Stakes?
- Por si só já são armas. 7 armas à serviço dela. Cada uma representa um pecado e tem um nome bastante sugestivo... Não que seja relevante.
- De modo algum... – disse Owen já imaginando os nomes das armas. – Não queremos assusta-los ainda mais com esses nomes.

Demorou pelo menos 10 a 12 minutos, na contagem de Elise, para que a primeira vitima fosse feita. Nesse meio tempo já amanhecera e caíra a noite novamente duas vezes. Era a 8 noite e permaneciam lutando. Não estavam mais concentrados no hall. Alguns fugiram para fora da mansão, outros para seus quartos. Nenhum nunca sozinho.

Após o primeiro cair, uma a um foram sendo mortos pelas Stakes do purgatório. Um a um caindo. Um a um morrendo. Indiretamente Elise matando enquanto a nona noite tinha início.

Na nona noite a bruxa dourada irá reviver.

Uma tempestade sem chuva. Era o que acontecia agora na ilha Priest. O vento corria furioso e os trovões gritavam do lado de fora. Todos da família caídos no chão do hall. Elise permanecia de pé no mesmo lugar com Owen à seu lado. As Stakes haviam desaparecido e as mesmas borboletas douradas que haviam lhes dado forma envolviam agora cada um dos corpos e em seguida dirigiam-se ao quadro. Era como se carregassem os sacrifícios para dentro da pintura. Quando a última borboleta transpassou a tela uma forte luz tomou conta da sala. Todos os parentes de Elise estavam de pé novamente, vivos, vendo o que estava acontecendo. Elise de frente para o quadro estava envolta em borboletas douradas. Sua roupa havia se rasgado nas costas revelando nelas a figura de uma asa dourada que brilhava.

Antes de tudo acabar podiam jurar ter visto a mesma mulher do quadro atrás de Elise que então caiu de joelhos no chão.



Capítulo 8 – Beatrice.

As malas estavam feitas. Ninguém dizia uma só palavra sequer. Todos provavelmente assustados demais e impressionados demais com o que ocorrera na noite anterior. Eles lembravam-se de pouca coisa. Terem sido mortos e depois revividos não era uma delas. Apenas lembravam-se de estar no hall vendo Elise e de repente 7 meninas vindo suas direções e então essas meninas transformarem-se em borboletas douradas e então aquela cena de Elise envolvida pelas mesmas borboletas.
De la para cá Elise não havia dito uma palavra à ninguém, nem mesmo à Owen embora talvez isso devido ao fato dele não ter lhe dirigido a palavra.
Preparavam agora os carros para a volta. Elise, Joey, Mackenzie e o pai de Elise, Otto, iriam em um carro de volta à Howarts. O restante voltaria para casa e tentaria de algum modo aceitar ou esquecer o que havia acontecido.
Parada na entrada da mansão os olhos de Elise mudaram ao começar a falar:

O vento se torna uma tempestade
E as ondas furiosas
O mar ruge e desperta a bruxa que viveu por um milênio

Eu tenho há muito esperado para este dia!
Há muito que receava este dia!
Quem vai festejar o destino?

Oh Bruxa! Oh Bruxa!
O que é que irá anunciar?

Para a lua que atravessa a noite, a maré alta de inundações
E as gaivotas acenam a turbulentas nuvens

A maldição dourada deixou para trás palavras
E o sorriso dissimulado, são vermelhos como sangue

Com os olhos fechados, o que estás esperando?
Mesmo que você tenha tentado recolher os seus pedaços quebrados
Eu puxo a partir de seus dedos que me tocaram, eu não posso atingir você
Se não houver amor, não podemos ver o que nos salta de verdades e falsidades

Beatrice! Bruxa cruel!
Sua beleza é incomparável

Beatrice! Oh! Sua bondade é inconstante
Eu nunca poderei ser libertado de seu feitiço
Caso esta dor deva durar, pelo menos, em seguida, tende piedade de mim por apenas uma vez

Nas asas dançantes de borboletas, sonhos e realidade vêm e vão
O som da chuva que não vai parar de cair esconde as verdades e mentiras

O banquete aberto, os escolhidos são vistos
A interligação entre o ódio irá encher o copo

Em um mundo preso, o que está procurando?
Mesmo que você esteja desejando por um milagre de sermos capazes de perdoar uma outra vez
Minha voz é calada pelo vento e ela não chega até você
Se não houver amor a solidão não desaparecerá

A alegria e tristeza voltarão depois que tudo acabar
Vamos estar a deriva para a meia-noite escura do mar
Lágrimas e cicatrizes, misturam-se, tudo junto
E você, do fingimento, insere-se na escuridão

O barulho das ondas. A voz do mar é como uma canção
Ouvi-las parece-me purgar pecados cometidos
O barulho das ondas suavemente nas rochas do meu berço
Eu serenamente adormeço e tenho sonhos felizes

Com os olhos fechados, o que estás a esperar?
Mesmo que você tenha tentado recolher os seus pedaços quebrados
Eu puxo a partir de seus dedos que me tocaram, eu não posso atingir você
Se não houver amor, não podemos ver o que nos salta de verdades e falsidades

O que seus olhos fechados vêem?
Enquanto você coletar pedaços
A ponta de seu dedos tocam
Sem sermos capazes de nos unir completamente
As aparências são falsas e dissimuladas
Sem amor, não podemos ver qualquer coisa

Sem amor, a verdade não pode ser vista

Foi quando as gaivotas começaram a chorar. E seu choro, se ouvido com atenção dizia repetidamente... Beatrice. Beatrice...




Parte 2 – revivendo a bruxa dourada.


“Tudo o que existia já é passado.”
“As dores de um ser que sofre não são para serem compreendidas.”
“Reviva mais uma vez, Beatrice.”


Capítulo 1 – De volta.

Hogwarts de certa forma parecia menor do que antes. As torres pareciam mais baixas, os corredores, mais estreitos.O carro agora parava nos jardins do colégio e durante toda a viagem Elise não havia dito uma só palavra. Joey, a sua frente, não sabia se tudo continuaria como antes. Ele esperava que sim.

O carro finalmente parou e seus passageiros desceram. Elise não esperou e seguiu para seu dormitório passando direto por alunos curiosos e pelo diretor que lançou um olhar atento.

- Preciso falar com o senhor, diretor Dumbledore. – disse o pai de Elise em tom grave.
- Sim, compreendo, vamos para minha sala. – respondeu e saíram os dois. Joey e Mackenzie olhavam com olhares preocupados e ao mesmo tempo sem emoção. De certa forma entendiam o que havia acontecido e exatamente por isso um turbilhão de sentimentos os invadia: inveja, raiva, ódio, pena, compaixão...
Enquanto Elise andava meio apressada para o dormitório pode perceber diversos olhares mais do que curiosos para cima dela. De repente um segundanista assustou-se com o que viu. Arregalou os olhos enquanto via Elise passar e se perguntassem a ele, podia jurar que a ouviu dizendo: “- Mas não vai durar muito tempo.”
Mais tarde de acordo com ele próprio, ela continuara falando alguma coisa, mas ele não ouvira. Seus colegas riram dele, mas os olhos, os olhos não eram os mesmos...



Capítulo 2 – Para complicar.

Rudolph Trent olhava seu irmão mais novo com interesse e descrédito. Sawyer Trent era um menino de 12 anos, segundo ano da grifinória e relativamente famoso por histórias meio “maravilhosas” demais para serem verdade. Seu irmão Rudolph estava no sexto ano da Corvinal e a ele fora pedido para conversar com o pequeno sobre a mais nova história sobre uma quintanista da Corvinal.

- Mas eu juro Rudolph! Ela vinha andando e seus olhos mudaram do nada! Do nada, estou dizendo!
- E o que exatamente você a ouviu falar?
- Bom, ela vinha andando e seus olhos mudaram em seguida eu a ouvi falando: “- Mas não vai durar muito tempo.”
- E você diz que ela falou mais alguma coisa, mas que você não ouviu?
- Isso! – exclamou animado por parecer que alguém finalmente acreditava nele.
- Sabe Sawyer, não acredito nisso, mas como irmão mais velho e da Corvinal vou investigar e ver se alguém sabe de algo... Sabe ao menos quem era menina?
O menino balançou a cabeça como se estivesse em duvida.
- Não tenho certeza alguma, sabe? Mas já a vi conversando com uma quartanista da Grifinória. Quis saber quem era e um amigo meu disse que eram parentes... Billard era o sobrenome. Mas é só o que sei.
- Já sei de quem você está falando. Marie Elise Priest Billard. É de fato uma menina esquisita...
- Está vendo?! Está vendo?!
- Não estou vendo nada, trouxa. – disse Rudolph batendo na cabeça do mais novo. Em seu intimo ele começa a pensar que em se tratando de quem era, poderia bem ser verdade...

Andando pelos corredores, Rudolph tentava lembrar-se da menina em questão. Marie Elise. Boas notas, boas maneiras, um tanto grossa, mas de modo quase educado e refinado. Se colocasse um vestido poderia passar-se por uma dessas damas orgulhosas, ricas, esnobes e arrogantes. Nunca chegara a conversar com ela, mas... Ele não sabia o que pensar. Queria que seu irmão estivesse errado. Sabia muito bem que tipo de visão as pessoas tinham dela e não queria que essa visão piorasse.

- Que bom que encontrei com você Rudolph! Soube que foi conversar com seu irmão a respeito de uma história. – disse Brandy Greer, quintanista da corvinal, meio agitada.
- Fui sim, por quê?
- Você acreditou nele?
- Não a principio...
- Mas é verdade! Eu sei que sim!
- Como assim?
- Eu vi! Eu vi exatamente a mesma coisa! Eu estava saindo do banheiro quando ouvi alguém falando sozinha e lá estava ela, Marie Elise, falando sozinha e seus olhos estavam estranhos! Não eram normais...



Capítulo 3 – Presenciando.

- Posso falar-lhe um minuto? – perguntou Rudolph apreensivo à menina à sua frente que lia em um canto da biblioteca.
- Sim? – disse Elise levantando os olhos e encarando o rapaz. Seus cabelos loiros estavam caídos de modo elegante. Elise o conhecia. Corvinal, sexto ano, bastante inteligente... De repente ele viu. Seus olhos mudaram e um sorriso dissimulado surgiu nos lábios de Elise. Ele vira com seus próprios olhos, os da outra mudaram como já lhe haviam falado.
- E então? – tornou a perguntar Elise diante da passividade do rapaz.
- Chamo-me Rudolph Trent...
- Sei quem você é. O que deseja comigo?
- Pessoas vieram me dizer que... Bem... – ele parou procurando as palavras certas.
- Dizer o que?
- Dizer que a viram em ocasiões nas quais parecia estranha, por assim colocar.
- Estranha? Estranha exatamente como?
- Houve dois relatos de pessoas que viram seus olhos mudarem e em seguida falava sozinha. – respondeu ele rapidamente em um fôlego só.
- Entendo... Você parece preocupado... Está preocupado?
- De certo modo...
- Não seria mais conveniente para você deixar isso de lado? Ou será que está preocupado não com a situação, mas comigo? – disse Elise com o mesmo sorriso de antes, entretanto Rudolph permaneceu calado. - Não daria para esconder por muito tempo mesmo... Quer saber a verdade?
- Como? –indagou surpreso
- Ora, como assim como?! Você parecia interessado... – disse ela levantando-se e debruçando-se sobre a mesa. – Quer mesmo saber a verdade? Eu lhe conto a verdade... – dizia ela enquanto se aproximava cada vez mais dele.
- Elise! – uma voz gritou e a garota desviou o olhar. Rudolph parecia surpreso, maravilhado, constrangido, aliviado e frustrado ao mesmo tempo. Por um lado se o grito do primo de Elise a fizera afastar-se dele, por outro também a impedira de contar-lhe algo que ele queria saber.
Ela começava a recolher suas coisas, mas antes de sair perguntou a ele:
- De quem foram os relatos?
- Hã? Bom...
- Acredito que um deles tenha sido de seu irmão, afinal você não é monitor nem nada para que desconhecidos queixarem-se com você... O segundo... Provavelmente daquela menina Greer... Então?
- Ahm...
- Bom, não importa... – respondeu ela sorrindo-lhe. Foi quando Rudolph deixou-se cair em uma cadeira ali perto. Depois que ela saíra o ar parecia mais leve. Ele lembrava-se da Marie Elise de antes. Poder-se-ia dizer que era anti-social, arrogante ou o que quer que fosse, mas perto da que ele acabara de encontrar, a primeira era uma santa...



Capítulo 4 – A primeira noite.

Todos dormiam silenciosamente naquela noite. Espantosamente, aquela era uma noite bonita. Ao contrário de tantas outras nubladas, aquela em especial tinha mais estrelas no céu no que as anteriores. Qualquer um podia perceber isso. Mais especificamente, havia mais sete estrelas no céu, mas estrelas tão brilhantes que qualquer um que olhasse veria a diferença.Foi quando alguém abriu a porta do dormitório feminino quintanista da Corvinal. A professora McGonnagal entrou devagar e dirigiu-se até a cama de Elise. A menina acordou e encarou a professora que pedia a ela que se levantasse.
Uma outra menina também abriu os olhos com a movimentação e perguntou o que houve.

- Nada importante senhorita Haruno, volte a dormir.

Sakura ficou parada por uns instantes vendo a outra corvinal levantar-se e sair com a professora. Porque a responsável pela Grifinória vinha tratar de algo com uma corvinal em plena madrugada era algo estranho, mas que não merecia atenção... Voltou a dormir.



- Oh! Senhorita Billard, vejo que não demorou a acordar. – disse o diretor assim que Elise entrou em sua sala. Diante da constatação um tanto quanto estúpida, Elise segurou-se para não revirar os olhos.- Sinto muito acorda-la em plena madrugada, mas creio que o assunto que tenho para tratar com a senhorita não pode esperar até amanhã. Sente-se, por favor. – disse Dumbledore indicando uma cadeira à menina.

– Primeiramente – continuou – Quero que saiba que o colégio oferecerá todo o apoio necessário e que nós realmente sentimos muito.

Como Elise permanecera calada o diretor continuou após olhar para a professora McGonnagal mais atrás.

- Chegou a informação essa madrugada que sua irmã mais nova faleceu enquanto dormia. – ao terminar de dizer essas palavras, esperou curiosamente pelo modo como Elise reagiria. Ela apenas continuou olhando fixamente para ele quando seus olhos mudaram ligeiramente. O diretor suspirou de modo que parecia constatar algo que já sabia.

- Nada pode ser feito à essa altura. Se me dão licença, vou voltar à dormir pois amanhã tem aula como bem sabem. – disse quebrando o silêncio, levantando-se e saindo da sala como nenhum dos dois presentes a impedira. Antes, porém, que pudesse alcançar a porta foi interrompida pela frase do diretor:
- Sua família está a caminho para apanhá-la e a seus primos
Ao que ela respondeu já com a mão na maçaneta.
- Se querem por sua conta em risco... Que fiquem à vontade. – e saiu.

No céu, uma das 7 novas estrelas brilhantes apagara-se lentamente.



Capítulo 5 – Testemunha de Acusação.

O dia amanheceu triste para a família dos Billard. A notícia que a irmã mais nova de Elise havia falecido espalhou-se rápido com a presença de toda a família da criança no colégio naquela manhã. Vieram todos apenas para pegar Elise e os primos. A menina descia as escadas rumo à saída do colégio quando uma voz a chamou.

- Hey! Billard! – gritou o corvinal correndo em direção à menina que parava e olhava para trás.
- Oh! Trent. Em que posso ser útil? – perguntou ela.
- Fiquei sabendo da sua irmã... Eu sinto muito...
- Sente mesmo? Todos dizem que sentem, mas ninguém a conhecia, nem ao menos me conhecem.
- Bom, pode-se dizer isso... Mas as pessoas são muito solidárias quando algo desse tipo acontece.
- Que algo desse tipo? Minha irmã mais nova morreu. Só isso. – retrucou impassível.
- Só isso?! Só isso?! Como pode dizer tal coisa! – esbravejou ele segurando o braço da menina chegando a levantá-la. Tudo o que Elise fez foi rir. Rir quase que histericamente atraindo a atenção de pessoas que passavam e da própria família da moça.
- O que pensa que está fazendo?! – gritou uma voz aguda identificada como a mãe de Elise.
Como se tomasse consciência de seu ato, Rudolph largou o braço da menina que sorriu dissimuladamente para ele logo após seus olhos mudarem.
- Hey, rapaz! O que pensa que estava fazendo?! – dessa vez foi o pai de Elise que se manifestou.
- Sinto muito senhor – começou Rudolph quando foi interrompido pela menina que o silenciava com o dedo indicador.
- Aos curiosos: não há nada para ser visto. – dizia ela enquanto começava a descer a escadas. Lá de baixo os familiares de Elise calaram-se. Qualquer manifestação da parte deles que pudesse ser dita, agora estava calada em suas gargantas. Um olhar.

No meio do caminho Elise parou e voltou rapidamente para onde Rudolph ainda estava parado.

- Ah! Quanto aquele segredo, eu lhe conto quando voltar se prometer a não contar à ninguém sobre mim. Ok? – disse ela piscando o olho e saindo em seguida.

...

- Senhor Trent, estou perguntando-lhe pela última vez: tem algo para nos contar a respeito da senhorita Marie Elise Billard? – disse a voz de Minerva McGonnagal.

- Não. – respondeu Rudolph engolindo seco. Ele não tinha porque não contar a ninguém como ela lhe pedira, mas mesmo assim ele não podia. Teoricamente ele não fizera promessa nenhuma, mas algo lhe dizia que tinha que cumprir aquilo. Não sabia dizer se era mera curiosidade pelo segredo que ela dizia que iria lhe contar, ou se era algo mais que ele não conseguia definir.

- Bom. Como o senhor não responde, está liberado.
- Eu respondo, sim. Acontece que não respondo o que querem ouvir. Se depender de mim terão de encontrar uma outra testemunha de acusação! – e ao dizer isso se retirou da sala do diretor.



Capítulo 6 – O Segundo Sinal.

Olhares curiosos pousavam sob a menina que voltava ao colégio. Ficara apenas um dia fora, um dia e outra das estrelas brilhantes no céu desaparecera.

- Como você pôde! Era meu pai! Meu pai! – gritava Mackenzie enquanto professores tentavam levar os três protagonistas do escândalo para uma sala reservada. Na verdade o “escândalo” estava sendo feito apenas pela grifinória, pois Elise permanecia impassível e Joey não se manifestava.
- Eu fico surpresa como quão tolas as pessoas podem ser. Há algum tempo se lhe perguntassem diria que não tinha medo, mas no fundo não passa de uma covarde que tem medo de ver os outros morrerem... E de morrer! – disse Elise assim que entraram em uma pequena sala desocupada. Presentes estavam os três primos, a professora de transfiguração, a professora de adivinhação e mais tarde o diretor juntava-se a eles.

- O que quer dizer com isso? – perguntou ela estremecendo ao ouvir as últimas palavras proferidas por Elise com certo ar de previsão.
- Apenas o que eu disse. – respondeu a corvinal olhando para a professora de Adivinhações ali presente – Talvez você queira perguntar à professora Trelawney, mas não creio que vá gostar da resposta. A professora mencionada também estremeceu ao ser olhada por Elise.
- Pare... – disse uma voz no canto da sala. Os olhares voltaram-se para o menino em questão que levantava a cabeça e encarava Elise. – Pare pelo amor de Merlim, Elise! – gritou ele avançando em direção à corvinal.
- Joey... – murmurou Mackenzie.
- Ha! – riu Elise ao sentir as mãos do grifinório apertando seus braços e a sacudindo levemente.
- Pare, por favor! Nós sabemos o que você passou e mesmo não podendo compreender um pingo do quão difícil deve estar sendo para você... Mesmo assim... Elise!
- Você realmente acha que sabe ao menos pelo que eu passei?! Tem alguma idéia de com quem você está falando garoto?! – Elise gritava com os olhos alterados – Vocês não sabem da missa metade! De nada!

O menino encarava a outra surpreso e devagar soltou seus braços. Ninguém atrevia-se a dizer uma só palavra. Ver o rosto alterado lhes dava algo mais que medo...

Do outro lado da porta, no corredor, Judy parava perplexa do lado de fora ao ouvir os gritos. Rudolph que vinha andando em sua direção parou ao ver a menina.

- Está tudo bem Brandy? – perguntou ele.
- Os gritos... São dela... Ela está aí dentro... – disse Judy olhando na direção da porta.
- Você tem medo? – perguntou colocando a mão sobre o ombro da menina.
- Não é para ter? – perguntou ela olhando para o rapaz com os olhos cheios d’água.



Capítulo 7 – Faça-me Conhecer.

Rudolph andava pelos corredores rapidamente desviando de alunos distraídos. “Justo agora ela me some!” pensava ele dirigindo-se à diversos lugares onde Elise pudesse ter se escondido.

- Ops! Vai à algum lugar com pressa, senhor Trent? – perguntou o diretor após desviar de um possível esbarrão com o garoto.
- Diretor! Eu... Não senhor. Estava apenas procurando...
- A senhorita Billard, não? – completou ele com os olhos maliciosos por trás dos oclinhos.
- Sim. O senhor sabe onde posso encontra-la?
- Não, infelizmente não sei. O colégio é tão grande afinal... Mas creio que o que busca eu mesmo posso lhe dar.
- Como assim diretor? – perguntou intrigado.
- Venha comigo até minha sala, senhor Trent. E se desejar traga a senhorita Greer com você. Espero-lhes em alguns minutos. – disse por fim retirando-se e deixando um confuso Rudolph para trás.
Cerca de 7 minutos depois dois corvinais encontravam-se parados à frente da porta da sala do diretor.
-Acho melhor entrarmos logo Rudolph... – disse Greer olhando para o garoto que encarava a maçaneta.
- Tem razão. – respondeu suspirando e finalmente entrando no recinto.
- Ora! Senhor Trent! Senhorita Greer! Sejam bem vindos! Sentem-se! – dizia Dumbledore enquanto apontava duas cadeiras. Os jovens obedeceram e esperavam pacientemente que o diretor falasse.
- Sei que estão aqui para saber o que está se passando com a senhorita Billard. Portanto vou explicar-lhes tudo. Quem sabe desse modo possam ajudá-la de alguma forma...
- Ajuda-la? – perguntou Judy.
- Exatamente. Vejam – disse inclinando-se para frente – ela está passando por problemas muito além da compreensão de todos nós, mas podemos de alguma forma ajuda-la. Para tanto já providenciei um contato, meio que forçado, admito, com alguns outros alunos. E agora venho contar-lhes tudo para que, quem sabe, possam minimizar danos... Compreendem?
- Sim senhor, nós compreendemos. – respondeu firme Rudolph após olhar de lado para Judy.

- Bom. Então comecemos do início. A senhorita Billard vem de uma família nada convencional... Dentre os hábitos dessa família está visitar certa ilha localizada ao norte. Todo ano os membros da família fazem essa viagem que, de acordo com eles, não passa de uma caça ao tesouro onde procuram resolver enigmas. Acontece que há algo mais por trás. Algo que não é para ser sabido por pessoas comuns e que muitos, há muitas gerações nem sabem que existe. Falo da Bruxa Dourada.

- Bruxa Dourada? – perguntou a corvinal que apertava as unhas contra a palma da mão.

- Sim. Reza a lenda que há mais de 1000 anos viveu na terra uma bruxa com uma aura de ouro. Temendo o poder dessa bruxa um grupo de poderosos feiticeiros reuniu-se e lacrou sua alma em uma ilha isolada. Essa ilha é a mesma que a família da senhorita Billard visita todo ano e da qual é proprietária.
- Você está dizendo que a família da Elise é dona de uma ilha que aprisiona a alma de uma bruxa maligna?
- Mais ou menos. Está certo, entretanto nunca disse que era uma bruxa maligna. É apenas poderosa.
- É? – perguntou Judy.
- Oh sim. O que nos leva a parte mais importante. A bruxa reviveu e dentro de algum tempo creio que completamente.
- Ela reviveu? – indagou Rudolph – Como dizem por aí que reviveu Voldemort?
- De certa maneira. Acontece que a bruxa dourada, ou melhor, Beatrice, não possui ligação alguma com Voldemort. Aparentemente ela não possui nenhum objetivo destrutivo ou até mesmo perigoso para a maior parte do mundo, mas representa para a senhorita Billard.
- O que Elise tem a ver com ela?
- Bem senhor Trent, acontece que a senhorita Billard faz parte de uma espécie ritual praticado há muito tempo.
- Como assim?
- Vou explicar-lhes...



Capítulo 8 – Entendimento.

A família Priest Billard é uma família muito reclusa e acredita-se que sejam descendentes de um grupo que há mais de 1000 anos protegia Beatrice. O ritual que mencionei consiste em reunir todos da família onde um deles será escolhido para abrigar o espírito ou a alma da bruxa até que seu corpo seja refeito ou que um corpo lhe seja arranjado. Esse processo de seleção de um membro leva em conta uma marca que todos eles ganham ao nascer e que cresce ao longo do tempo conforme o poder e capacidade da pessoa. Quanto maior a marca, melhor e mais poderoso é o membro para abrigar a alma de Beatrice. Entretanto não é sempre que um membro é escolhido. Existem épocas e períodos que variam de acordo com a necessidade e poder da bruxa de voltar. Esse ano isso aconteceu e o familiar escolhido foi a amiga de vocês, a senhorita Billard.

Os dois permaneceram atônitos, encarando o diretor por alguns segundos quando Rudolph falou.
- Então Elise tem um espírito dentro dela?
- Oh não. Não dentro dela, ao lado. Como uma pessoa que a acompanhasse, mas que, entretanto, só pode ser vista pela senhorita Billard.
- Ok, mas o que nós podemos fazer? Ou melhor, o que isso faz? E como isso explica os olhos mudarem? – perguntou Judy de forma simples.
- Bem. Toda vez que Beatrice fala com Elise, os olhos dela mudam. É por isso.
- Quer dizer que sempre que os olhos dela mudarem a bruxa está falando com ela?
- Exatamente. Agora, quanto ao que isso faz... Para que Beatrice possa reaver seu corpo são necessários 7 sacrifícios. 7 almas. 7 dons. Os nomes variam. Tais sacrifícios devem provir da própria família Billard.
- Quando o senhor diz sacrifício... – começou Rudolph – quer dizer que a irmãzinha de Elise que morreu...
- Sim. Ela foi apenas o primeiro sacrifício. Depois dela ainda houve um outro, o do tio de Elise. O pai dos primos dela, Mackenzie e Joey. E ainda restam 5 para acontecer.
- E devemos adivinhar que o senhor quer que paremos isso?
- Parar? Quem dera fosse possível... Acontece que a ultima vez que Beatrice reviveu foi há tanto tempo que não se tem idéia dos resultados ou conseqüências...
- Então não há nada que possa ser feito?
- Na verdade há sim. Conversem com ela. Aproximem-se dela. O histórico da senhorita Billard desde que entrou em Hogwarts aponta claramente a solidão dela. Já conversei com seus familiares e todos disseram que ela é assim. A palavra correta não seria essa, mas seu primo Joey chegou a defini-la como anti-social.
Tentei força-la a um convívio e peço que façam o mesmo. Forcem-na a abrir-se com vocês. Talvez assim algo possa ser feito, afinal não podemos agir com ela isolada. Posso contar com vocês? – disse por fim Dumbledore olhando para os dois garotos.
- Pode sim, senhor. Faremos o possível... Existe algo mais que devamos saber? – disse Rudolph
- Existe sim. Mas são detalhes e é melhor que sejam ditos pela própria Elise.



Capítulo 9 – Não para mim.

Rudolph andava apressado pelos corredores à procura de Elise. Essa cena não lhe era estranha... Havia estado ultimamente muito próximo e muito preocupado com a garota e o pior é que ele não tinha idéia do por que. Acabou por encontrá-la sentada em uma pedra olhando para as montanhas.
- A maioria das pessoas prefere a vista do lago... – disse ele sentando-se ao seu lado. Ao olhar para a menina viu que seus olhos estavam diferentes, o que significava que a tal bruxa estava lá. Sentiu seu corpo estremecer enquanto fazia força para ser corajoso.
- Hm... Acontece que para aquele lado fica a ilha Priest...
- A ilha da sua família?
- Isso... Eu gosto de ficar olhando em sua direção onde quer que eu vá, pensando que talvez eu possa alcançá-la. – Elise agora parecia uma criança. Não era de longe assustadora ou anti-social, mas o que Rudolph via era pura fragilidade, inocência. Mesmo que tal impressão tenha durado apenas um segundo, ela estava ali.
- E você consegue? – perguntou como se não estivesse prestando atenção ao que ela falava quase como uma pergunta por obrigação... Mesmo que não o fosse. Elise encarou-o curiosa e respondeu:
- Em pensamento consigo, às vezes... – respondeu ela rindo.

Era engraçado como a imagem pintada da garota pelos outros e por ela mesma fora totalmente desconstruída em instantes. Mesmo tendo consciência de que a bruxa que Dumbledore mencionara estava ali, agora ele não conseguia pensar nisso. Não conseguia pensar que justo aquela menina pudesse estar vivendo tudo aquilo. Foi quando tomou coragem para iniciar uma conversa.
- Sabe Elise... Sinto muito mesmo pela sua irmã... Fiquei sabendo que seu tio também faleceu...
- Sim, ele também se foi... Mas eu não sentiria no seu lugar...
- Só porque nos conhecemos há pouco tempo significa que eu não posso ou devo me preocupar? – perguntou tentando manter a conversa leve.
- Não é isso! – ela exclamou de repente como se contestasse a decisão injusta de um adulto tirano. – Eu... Gosto que você se preocupe... Ou que alguém se preocupe... – disse ela com relutância.
- E o que é então? – perguntou ele quase que comovido pelo jeito da corvinal.
- É que... Acontece que eles não morreram, não ainda... – respondeu dando um meio sorriso. – As pessoas acham que eu sou uma assassina, não é isso? – indagou de repente.
- Como assim? Não... Não! Não é isso... Porque a pergunta?
- Porque é como elas me olham... Sempre me olharam com um misto de pena e medo e agora me olham com um misto de medo e ódio... Não que eu ligue para esses seres baixos. – disse com seus olhos mudando nessa ultima frase. Rudolph tomou coragem e resolveu perguntar, mesmo correndo o risco de arruinar o que ele achava ser a primeira conversa sincera de Elise:
- O que ela está dizendo?
- O que?! – perguntou de sobressalto com os olhos alterados.
- Seus olhos. Eles mudam toda vez que ela fala com você, certo? É Beatrice, não é?
- Como você sabe disso? – ela parecia um tanto quanto assustada.
- Dumbledore me disse...
- Maldito! E maldito seja meu pai! Farei dele o próximo para que não abra mais a boca! – exclamava exaltada.
- Calma Elise... Calma... – disse o garoto.
- Quem mais sabe? – ele permaneceu em silêncio, ponderando se devia falar ou não...
- QUEM?! – berrou ela de modo que parecia que seu grito havia feito os pássaros ao redor voarem.
- Judy... Mas Elise!
- E agora? E agora?! – ela já não falava mais com ele e sim com alguém que ele não podia enxergar.
- Elise... – como se finalmente ela ouvisse a voz do corvinal, parou de repente e virou-se para ele.
- Ora Rudolph, querido... Aposto que ficou bravo porque não lhe contei o segredo que prometi que contaria?
- Não me venha com essa Elise! Não desvie o assunto e, por favor, não minta para mim... Não para mim!



Capítulo 10 – Mais fácil do que se pensava.

Ela fora confrontada. Até então ninguém tivera coragem de contrariar o que falava... De interrompê-la.
- O que? – perguntou meio assustada ou apreensiva.
- Não minta para mim Elise. Eu sei de coisas. Não sei de tudo, mas gostaria de saber. Gostaria me contasse...
- Por quê?
- Porque é natural querer ajudar os amigos quando eles precisam, e você precisa... Pode não admitir, mas precisa.

Ela estava atônita e em seu intimo curiosa com que estava por fim. Milhares de possibilidades passaram pela cabeça da jovem quanto finalmente a mais inesperada das respostas e das reações.
- E eu não sei? – respondeu rindo e desarmando-se da defesa usual. Sentou-se novamente e disse em tom ameno: - O que quer saber?
- Quero saber sobre os sacrifícios. – respondeu com a primeira curiosidade que lhe veio a cabeça pois ainda estava surpreso. Esperava tudo menos aquilo. Esperava que ela o torturasse, o matasse ou qualquer tipo de descontrole, mas não aquela atitude serena que vira.
- Logo algo que eu não sei muito a respeito... Beatrice sabe melhor do que ninguém, mas o que eu sei é que não são sacrifícios concretos. Olívia e meu tio não morrem à toa, eles não morreram... Os sacrifícios eram considerados concretos e inteiros até certo tempo atrás e até hoje por certas pessoas, mas na verdade consiste no sacrifício de 7 dons, sejam eles quais forem, para que ao final dos 7 desperte o corpo de Beatrice.
- Mas sua irmã não foi enterrada?
- Não! Ela está dormindo em um quarto na mansão da ilha Priest. Assim como meu tio. Mais cinco pessoas cairão em sono profundo até que seja cumprida a restauração de Beatrice.
- E quando Beatrice surgir... O que...
- O que vai acontecer? Está preocupado pensando que talvez ela queira dominar o universo, opor-se ou aliar-se a Voldemort que dizem que voltou, mas que ninguém sabe se é verdade porque até onde eu sei esse Potter é louco tal qual Dumbledore?
- Puxa! Mas não... Eu estava imaginando...
- Não se preocupe, não é nada disso... Ela está atrás de duas coisas apenas: uma pessoa e diversão. Quase como um jogo. Não vê assim?
- Um jogo? Sério? – disse ele rindo.
- É sim! Um jogo no qual todos são jogadores e vitimas... No qual as vidas são apostadas...
- Ui Elise!
- Desculpe... Mais alguma coisa?
- Por incrível que pareça, não. Mas que eu lembrar de algo eu aviso.
- Avise à Judy também... Ela parece preocupada com você e assustada comigo...
- Como você sabe?
- Porque ela está atrás de uma arvore atrás de nós.
- Você consegue ver? – perguntou arrependendo-se depois por saber a resposta. – Esquece...
- Beatrice. – disseram os dois ao mesmo tempo.

Elise levantou-se e caminhou em direção ao castelo. Não se despediu dele ou sequer lançou um olhar à corvinal escondida. Simplesmente caminhou e seguiu seu caminho. Faltavam 5 dons e Beatrice parecia querer falar-lhe.



Capítulo 11 – A Bruxa Dourada.

O salão comunal da corvinal estava praticamente vazio. Uma ou duas vivas almas estudavam ou passavam o tempo fazendo nada. Para sua melhor sorte o quarto encontrava-se vazio.
- Pronto. – falou Elise – E antes que diga alguma coisa, eu sinto muito...
- Não sinta. Não há por que... Não sou tão insensível quanto você pensa! – respondeu uma mulher de cabelos loiros dourados presos em um coque e de olhos vermelhos e profundos.
- Há! Não me faça rir Beatrice! Você é tão cruel quanto penso que é...
- Não a ponto de não perceber que você precisa de ajuda meu anjo...
- Preciso de ajuda para que nada aconteça àquela que lhe recebe, não é isso?
- Pode ser... Mas pode ser que eu me preocupe com você mais do que você pensa. – A mulher sentou-se na cama onde Elise estava. – Nunca lhe ocorreu isso?
- Até que eu realmente tenha prova disso, essa sua idéia nunca me ocorrerá!
- Não seja tão insensível, menina. Olha que desse jeito você vai ficar pior do que eu...
- Hpmf! Até parece... Agora vai, diz.
- Dizer o que?
- Como o que?! O que quer que fez com que eu precisasse sair de lá para não responder na frente deles.
- Ah, claro... Sabe, acho mesmo bom que todos tomem conhecimento logo de minha existência...
- Quanto mais almas descrédulas para você devorar, melhor.
- Por aí, mas você sabe muito bem o que eu quero e quem eu quero.
- Eu sei, eu sei... Tem alguma idéia de como encontra-lo?
- Algumas... – respondeu cruzando as pernas e pousando a cabeça sobre a mão do braço cujo cotovelo apoiava-se no joelho.
- E então?
- E então que acho muito pouco provável encontra-lo nesse estado atual. Duas almas não são o suficiente... Trate logo de dar cabo de pelo menos mais 3 de seus parentes...
- Eu mereço... Como acha que vou conseguir sair sem mais nem menos do colégio?
- Arranje uma desculpa... Diga que sua mãe morreu e que vai para casa e lá você os mata.
- Você fala como se fosse a coisa mais simples do mundo.
- Matar é muito fácil... Você sabe.
- Não essa parte...
- Mentir? Mais fácil ainda!
- Eu falo de arranjar meios para suportar a mentira... Ou não acha que vão querer comprovação?
- Eles vão... Mas não vão se meter a besta de te contrariar, não é criança?

Elise meneou a cabeça e riu. Ela e apenas ela havia visto as inscrições do quadro. Ela e apenas ela (e óbvio, Beatrice) sabia que de nada adiantaria matar 2, 7, 20 familiares. O problema é que as pessoas não sabiam e as pessoas eram sempre um problema. E o problema era que mais cedo ou mais tarde tratariam de acusá-la de uma lista de homicídios quase tão grande quanto à de Voldemort...



Capítulo 12 – Três Tempos.

- Viu como você conseguiu? Sinto-me muito mais forte! – dizia Beatrice pouco mais atrás de Elise que tinha de encarar olhares estranhos para cima dela. Virando em um corredor mais vazio, tratou logo de entrar no banheiro feminino.
- O que foi? – perguntou segurando-se para não rir.
- Faltam dois. Falta apenas dois, meu anjo de asas negras! – exclamou Beatrice seguido de uma risada histérica.
- Tem razão. Falta só dois. – disse Elise ainda segurando o riso.
- O que foi? – perguntou a bruxa surpresa
- Ora, nada!
- Você está contente, não está? Dá para ver em seus olhos.
- Mais animada do que você, impossível!
- Tem razão. Afinal estou a dois passos da volta, enquanto você está a dois passos do completo desprezo social. Pensando bem você deveria estar em um poço de depressão.
- A coisa mais engraçada para mim é a ignorância das pessoas. Tão tolas a ponto de julgar qualquer um que não conheçam por coisas que nunca nem ouviram falar.
- Fala sobre o boato de ser uma assassina?
- Isso porque ainda não te conhecem... – disse saindo do banheiro e esbarrando sem querer num aluno que passava por ali.
- Elise! – exclamou a menina chamando atenção para si dos alunos que passavam. Elise apenas piscou. Não que fosse uma duvida muito pertinente, mas não sabia como chamar a menina a sua frente. Como o silencio permanecera a outra continuou. – Sou eu, Judy!
- Oh, Judy... Como vai? – diante da outra corvinal Elise parecia perder o “escudo”. De um jeito estranho, o modo expansivo da outra sem o mínimo medo ou vergonha deixava Elise à vontade.
- Vou ótima, e você?
- Bem... Vou bem. – ao lado de Elise, Beatrice ria descontroladamente. Seus olhos mudaram ligeiramente.
- Ha! Essa menina não tem noção de perigo...
- Oh, Beatrice está aí? – perguntou Judy de modo bem simples. A bruxa parou de rir e encarou a menina que inexplicavelmente, de propósito ou não, olhava fixamente para ela.
- Ela pode ver-me? – perguntou surpresa.
- Está com medo? – respondeu Elise baixinho.
- Sim. – disse simplesmente a outra.
- Você pode vê-la? – agora era Elise que perguntava surpresa.
- Sim, eu posso vê-la. – respondeu Judy para as duas que permaneciam paradas.
- Ahm... Co... Como? – foi tudo que saiu da boca de Beatrice perante a afirmação.
- Realmente importa? Dom de família...
- Desde quando? – Elise perguntou apressada.
- Desde agora na verdade... Se estiver pensando que desde sempre, não. Desde agora mesmo.
- Desde agora?
- Exatamente, e acho melhor sairmos daqui, pois estamos chamando atenção. Além do que você precisa me contar que história é essa de três pessoas de sua família terem morrido ontem.
- Ah minha nossa... – Elise pôs a mão na cabeça enquanto deixava ser guiada pela outra. Beatrice apenas seguia as duas tentando digerir o novo dado com o qual precisava lidar...



Capítulo 13 – Um salto, o fim?

Fora uma semana conturbada. A atmosfera estava pesada por toda Hogwarts. Evidências de que o Lord das trevas retornara estavam cada vez mais claras.

Elise estava no hospital fazia dois dias. Surpreendeu-se ao receber mais visitas do que esperava. Judy e Rudolph haviam passado por ali bem como quase todos seus familiares. Agora ela descansava. A seu lado Beatrice estava sentada, olhando a menina dormir.

Finalmente recuperara seu corpo... Ainda podia sentir o momento em que voltou a vida e o rosto à menina caída de joelhos no chão. Lembrava-se bem de como Elise chorava. Não sabia dizer, entretanto o motivo, mas certamente algum misto de cansaço e alívio e talvez felicidade. Algumas vezes a corvinal deixara escapar uma ou outra informação mais pessoal. Beatrice sentia-se orgulhosa por poder ver a menina finalmente crescer.
- Ainda está aí? – perguntou Elise abrindo os olhos e se ajeitando na cama.
- Não saí daqui um minuto. Talvez por isso ninguém tenha querido entrar... Quer que eu saia?
- Não, não... Eu gosto muito de sua companhia...
- Sinto-me lisonjeada. Também gosto muito da sua companhia, menina.
- Hm... – riu Elise – E agora?
- Agora o que?
- Agora que você retornou a vida fica mais fácil para encontrá-lo. Como vamos fazer isso?
- Vamos? Vamos uma vírgula. Se eu o tivesse encontrado estando ainda hospedada em você certamente o verbo estaria correto, mas agora não existe mais um “nós”.
- Há! Você só pode estar brincando. Eu não quase morri para você simplesmente me largar... Além do que eu não tenho nada a perder mesmo.
- Tem sim. Tem os amigos que você conquistou e sua família.
- Grande coisa...
- Até parece que você pensa mesmo isso.
- Escuta Beato... Por muito tempo a única coisa que me interessava na vida era passar por ela o mais rápido que eu pudesse. E aí eu fui escolhida e me envolvi com tudo isso e eu realmente me interesso por isso. Não acabou ainda. Por uma obra da sorte não vieram atrás de você e você tem sim condições de se livrar de qualquer um, mas ultimamente você foi a única coisa que me fazia sentir viva, útil... E não precisa responder ou contestar porque não tem volta.
- Entendi... Entendi. – disse Beatrice levantando as mãos em sinal de resistência.
- E mais uma coisa.
- O que?
- Se você contar para alguém uma vírgula dessa conversa, eu juro que te mato. – disse Elise por fim.




Observações pertinentes: os eventos ocorridos na parte 2 de O conto da Bruxa de Ouro são uma narração por alto do processo para reviver Beatrice.

A parte 1 conta a viagem da família de Elise e o surgimento de Beatrice.

Existem ainda 2 arcos, interlúdios chamados “A Ressurreição” e “Como eu Pude Ver” ocorridos entre os capítulos 12 e 13 que narram respectivamente a volta de Beatrice e uma pequena história do ponto de vista de Judith S. B. S. Greer. Ainda existe uma história intitulada “Histórias dos Mortos” que conta as mortes dos parentes de Elise do ponto de vista das vitimas.

Alguma dúvida? Muitas? Então cumpri meu objetivo.

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Perfeito o conto, Parabéns Elize! =D
 

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