Travessa do Tranco ~ In Memoriam
Sleeping Beauty
segunda-feira, 26 de maio de 2008 18:02 | 0 Comentários


   Estamos no ano 476, o Império Romano do Ocidente caiu nas mãos dos povos bárbaros, as pessoas estavam amedrontadas mas não eram em todas as pessoas que estavam em meio a guerra. Em um vilarejo recluso na França a guerra ainda não havia tocado e suas pessoas viviam em uma falsa paz. O vilarejo era próspero pois foi o lugar de refujo do cônsul Flavius Armatus, sua família estava vivendo lá agora. Ele tinha três filhos homens e uma filha garota, a menina era uma bastarda, ela não sabia a verdade. Pandora cresceu em meio a uma família de camponeses, mas era evidente que ela não vinha de lá, enquanto seus supostos pais tinham os cabelos negros e olhos castanhos, ela era loura com os olhos verdes.

Estava na época do festival da colheita, todas as moças deviam juntas levar safras de trigo ao templo da deusa Ceres para dançar e rezar. Pandora estava arrumando suas vestes cerimoniais, ela era primorosa nesse momento por que Marius estaria lá. O belo e laureado filho de Flavius era o partido mais disputado da região, nunca Pandora havia imaginado que uma pobre camponesa teria seu destino entrelaçado ao filho do cônsul.

Ela correu para o centro, o antigo mercado estava agora abarrotado de flores e estatuas de Ceres. Pandora e as outras jovens fizeram seu caminho até o templo da Deusa, jogavam flores e carregavam as cestas. Sempre dançando e cantando, a multidão ia aos poucos dispersando para voltar para a festa no vilarejo, as virgens enfim ficaram sozinhas quando chegaram diante da gigantesca estatua de bronze de Ceres.
Colocaram as oferendas, trancaram os cabelos umas das outras, entoaram cantigos e deixaram Pandora sozinha, nenhuma daquelas jovens teria deixado-a la se soubessem das desventuras que iriam acontecer.
-Gracas a Júpiter, pensei que elas nunca iriam embora.
Marius saiu de trás da estatua da Deusa.
-Você viu nossos ritos?
Aquilo era uma profanação ao culto de Demeter, mas Pandora não estava preocupada com a tradição, algo nos olhos de Marius lhe dizia que ele não iria lhe fazer bem.
-Vamos Pandora, você sabe que eu tenho lhe observado a muito tempo.
Ela não sabia de nada, Marius passava tanto tempo treinando com os legionários que ele quase não era visto.
-O jeito como você se troca de manhã...
O filho do cônsul sabia onde ficava o vestiário das vestais de Ceres.
-A forma indecente como você rebola...
Ele agarrou Pandora, ela tentou fugir mas Marius era bem mais forte do que ela. Ele agarrou o ceio dela e mordeu o pescoço da garota horrorizada.
-Me deixe ir embora! ME DEIXA!
Ela gritou mas sua túnica já estava rasgada no chão e a dele arriada até os joelhos. Os corpos dos dois se encaixaram e Pandora arregalou os olhos em pânico.
-Vadia...
Ele murmurava obscenidades no ouvido dela.
-Me LARGA AGORA!
Marius foi arremessado do outro lado do salão, conseguiu um corte no supercilio, ele vomitou em enjoo. Olhou para ela e viu que os olhos verdes estavam dourados, um sinal evidente de magia naquela época.
-BRUXA! BRUXA!
Marius gritou e se levantou para pega-la, porem Pandora já estava quase chegando em casa, correndo o mais rápido que podia.
Ela entrou correndo e se deitou perto da lareira, abraçando os joelhos e chorando se sentindo o ser humano mais imundo do planeta. Ficou horas em posição fetal como se estivesse em um sonho ruim. Até que arrombaram a porta de sua casa.

Os legionários entraram, seguidos de Marius e o cônsul em pessoa.
-Foi ela pai, ela é a bruxa que me seduziu.
Por um momento Flavius olhou Pandora nos olhos e seu coração se apertou, ela era a imagem da mãe mas os olhos verde esmeralda eram inegavelmente dele. Ele não conseguiu sustentar o olhar por muito tempo, uma lágrima furtiva escapou, ele queria ter ficado com ela, mas em tempos de crise dar a luz a uma mulher seria desgraça certa.
-Faça o que quiser.
Disse Flavius, ele saiu deixando Pandora a merce do irmão.
-Agora você é minha vadia.
O louro a puxou pelos cabelos para fora da cabana e desde aquele momento não houve um único dia que Pandora não desejasse morrer. Ela foi atirada no rio e quase morta afogada, seu braço esquerdo foi estilhaçado com uma marreta, milhares de cortes foram feitos pelo seu corpo. Ela teve as pálpebras costuradas e sanguessugas pressionadas contra os lábios e violentada tantas vezes pelos legionários que ela não saberia mais contar. Mas ela não morreu, quando seu braço esquerdo foi estilhaçado ela parecia ter morrido, então foi largada no chão da floresta.

Flavius a encontrou. Aquele homem desgraçado e castigado pela dor de saber que incesto e assassinato haviam sido cometidos no seio de sua própria família. Ele pegou Pandora e a colocou no quarto mais alto da torre de vigília do antigo forte da legião romana.Ele a colocou em uma rede de tecido vermelho, mesmo naquele estado deplorável Pandora era tão igual a mãe que Flavius se recusou a enterra-la. Colocou-a no quarto e lhe beijou as faces cadavéricas, ele sentiu ódio da mulher por ter lhe poupado as alegrias de uma filha. Poderia tê-la ensinado versos de Homero e a matemática de Pitágoras, sentia-se tão desgostoso com Marius que ele amaldiçoou a vida que ele havia tirado de Pandora.

Mas a magia continuou mantendo-a vida, em estado vegetativo era como se o seu próprio coração fosse uma horcrux. O sangue wicca não deixaria que ela partisse em tamanha agonia, lentamente as feridas começaram a sarar. O braço estava começando a ser reconstruído o osso e os músculos já estavam razoavelmente fortes em um ano e ela poderia ter se curado completamente com mais dois anos de sono, porem antes que sua magia branca pudesse acorda-la...

Um vampiro a encontrou.

Julius naquela época já era um filho dos milênios, atraído pela lenda da princesa morta trancafiada na torre ele foi até Pandora. Quando a encontrou ela estava maravilhosamente mórbida, o sangue em seu braço ainda pulsava e todo o chão da torre estava escarlate, o sangue seco no rosto dela lembravam lágrimas.
-Pobre criança.
Julius passou os dedos pelos cabelos louros sujos, o vampiro usava vestes gaulesas brancas e uma capa vermelha meio rasgada e suja de lama.
-Diga-me minha querida...
Ele conseguia ouvir o som da respiração dela.
-Quer vingança sobre aqueles que a colocaram nesse sono maldito?
Ela daria uma bela Imortal. Julius tirou as faixas que estavam em sua própria cintura e valendo-se de um pouco de magia fez uma atadura para o braço da moça. Ele chegou o rosto junto ao dela e mordeu a própria língua, o sangue escorreu pela boca do rapaz e entrou nos lábios negros de Pandora. Ele a beijou e o sangue vampírico fez com que Pandora correspondesse. Ela estava sedenta, Julius fez um corte em sua garganta e levou os lábios de Pandora até a ferida. Ela bebeu com vontade e quando ela e Julius se desgrudaram o veneno estava começando a agir na moça.

Ela sentou-se na rede e o vampiro beijou-a mais uma vez nos lábios, ela não era nada mais do que um zumbi agora.
-Marius... Esse é o sangue que você deseja não é?
Agora ela pertencia a ele, toda a vida dela, todos os seus poderes e potencialidades estavam escancarados para Julius. A garota emitiu um grunido e Julius a guiou para fora da torre. Ele prendeu na cintura dela uma lanterna com três fadas e disse que assim que ela estivesse saciada a lanterna se abriria e o veneno voltaria a agir para coloca-la em estado catatônico assim transformando-a em uma vampira completa.
-Venha meu amor.
Ele virou uma coruja, grande e macabra, prendeu o braço direito de Pandora com as garras e a guiou pela floresta até o vilarejo.






Oh, holding my breath

Won't lose you again


Something's made your eyes go cold


Tentaram mata-la, os legionarios tentaram acerta-la com laminas e flechas, porem as armas ricochetearam. Como se ela tivesse milhoes de braços, cabeças eram decepadas com braços invisíveis.


Come on, come on

Don't leave me like this

I thought I had you figured out

Something's gone terribly wrong

You're all I wanted

Julius nao largou o pulso de Pandora por um minuto sequer, ela chegou na mansão de Flavius. O cônsul estava casado com uma feiticeira chamada Aelia. Marius sacou a espada e junto com seus irmãos ele ficou na sala em uma emboscada que no fundo Aelia sabia que era inútil.

I know, I know

I just know

You're not gone

You can't be gone

No

A aurea de Pandora escancarou a porta. Naquele momento Flavius havia cortado os pulsos implorando perdão ao Deus dos cristãos, Marius tentou atacar mas a espada voou de sua mão e a garota usou sua aura para matar os irmãos do rapaz.
-Monstro! Monstro!
Marius gritou, naquele momento Pandora abriu os olhos, eles estavam vermelhos como rubis, as lagrimas escarlates voltaram a correr. Julius soltou o braço dela e se empoleirou no braço do divã.
-Você me queria não é?
Ela abriu os braços e os fechou em torno do rapaz horrorizado.
-Então agora nós vamos ficar juntos para sempre.
O abraço letal se formou, as presas dela no pescoço dele e os lábios dele em algum dos inúmeros cortes do pescoço dela.
-LARGUE-O!
Aelia estava com um grimório na mão, mas tanto Marius quanto Pandora já estavam perdidos para sempre.
-Ju kurrë nuk do të ketë paqe kurrë përgjithmonë vuajtur nuk do të ketë vend për ju
Aelia amaldiçoou Pandora, nunca mais ela haveria paz, ela nunca encontraria seu lugar ou teria calma no seu coração, só a dor e a solidão a encontrariam, não importa aonde quer que ela fosse.

Marius e Pandora eram um só, o sangue dos dois era o mesmo e isso fez com que partilhassem da mesma sina. Sobre o peito de cada um deles foi desenhado uma marca de entrelaçados negros sobre uma estrela vermelha, o símbolo da maldição de Aelia, mas havia outra marca, os cabelos louros ficaram negros como a noite e os olhos antes verde esmeralda agora eram azul como o céu do meio dia.

Pandora e Marius mudaram de nome com o tempo, foram Odette e Johnatam, Claire e Snow, Mirka e Raziel, mas hoje eles se chamam Anna e Vlad.

by Jeffrey Thomas on deviantart.com

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